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Vale Tudo pelo lucro

Há tempos a televisão brasileira não via um acontecimento como este. Apesar das diversas críticas que surgem na internet sobre a autora, a qualidade da trama ou as piadas com a adaptação de assuntos atuais na história, "Vale Tudo" voltou não apenas como novela, mas como espelho de uma nova era. No horário nobre, o remake transformou a ficção em palco de negócios. A cada intervalo, uma sequência de marcas desfilando diante dos olhos de quem aguarda o desfecho da morte de Odete Roitman. O capítulo ainda nem começou, mas o espetáculo já acontece — dentro e fora da tela.

Mais de vinte anunciantes se revezam entre as pausas da trama, disputando segundos que valem milhões. Fontes de mercado estimam que cada inserção publicitária pode variar de R$ 2 a R$ 3 milhões, chegando a R$ 10 milhões quando a ação é integrada à história, como a da Omo, possível cotada para figurar na cena principal do esperado assassinato. Somadas, essas ações podem render até R$ 200 milhões ao longo da trama. O capítulo da morte da vilã é o ápice comercial da teledramaturgia.

Mas nada disso é exatamente novo. Em 1988, o humor do "TV Pirata" já ironizava o excesso de marcas nas novelas, zombando do vício do merchandising. O quadro da novela fictícia "Fogo no Rabo" parodiava o costume, mencionando diversas marcas famosas a cada diálogo. Quase quatro décadas depois, a piada virou método. A ficção cedeu espaço à lógica do mercado.

"Vale Tudo" reaparece, portanto, como síntese de um tempo em que emoção e publicidade se confundem. A morte de Odete não é só um ponto de virada na história — é o momento em que a novela se transforma em vitrine. Entre a nostalgia do passado e o cálculo do presente, a Globo reafirma o que o público já sabe: na televisão, tudo vale, desde que haja quem assista.