O Cerrado pulsa como um coração resiliente no centro do Brasil, vibrante, ameaçado, mas ainda pleno de vida. Essa savana tropical, muitas vezes ofuscada pela grandiosidade da Amazônia, abriga uma das faunas mais ricas e peculiares do planeta. E se o Cerrado pudesse falar, talvez sua voz seria a de um lobo-guará solitário, caminhando entre capins-dourados, sussurrando histórias de sobrevivência e resistência.
Lá, entre as veredas e chapadões, convivem seres encantadores: o tamanduá-bandeira, com seu passo elegante e olhar ancestral; o tatu-canastra, escavando memórias sob a terra vermelha; a onça-pintada, fantasma majestoso que, mesmo rarefeito, ainda vigia as matas galeria. Há também os pequenos protagonistas, como a ema, o seriemas, o rabo-de-palha, e incontáveis insetos e aves que tingem o cerrado de sons e cores, como um poema ininterrupto.
Mas a fauna do Cerrado não é mais a mesma de outrora. A expansão do agronegócio, a monocultura e os incêndios, muitos deles criminosos, seguem abrindo feridas profundas nesse bioma. Estima-se que mais da metade de sua vegetação nativa já tenha sido substituída. E com ela, as rotas migratórias, os ninhos, os corredores ecológicos dos animais também desaparecem.
Ainda assim, há esperança. Projetos de conservação vêm ganhando força, unindo ciência, comunidades locais e tecnologia. Câmeras de monitoramento capturam o andar tímido de um gato-do-mato-pequeno; satélites mapeiam o ressurgir da vegetação nativa; jovens biólogos replantam o futuro, árvore por árvore. A fauna do Cerrado resiste e insiste em nos lembrar de que proteger esse bioma é salvar uma parte essencial de nós mesmos. O Cerrado ainda canta. Que saibamos escutar sua música antes que o silêncio tome seu lugar.