Durante décadas, os olhos do mundo se voltaram para o Oriente. Era lá que se concentravam os epicentros de instabilidade, guerras longas e conflitos que pareciam intermináveis. Da Síria ao Afeganistão, do Golfo Pérsico às montanhas do Cáucaso, o mapa da insegurança parecia fixo, distante das Américas. Hoje, o tabuleiro geopolítico apresenta novos contornos. Manchetes recentes trazem como protagonistas Donald Trump e Nicolás Maduro. De um lado, o anúncio da mobilização de 4,5 milhões de milicianos; de outro, o avanço de navios de guerra em direção à costa venezuelana.
Um possível confronto militar na América do Sul. Quando isso se tornou uma hipótese concreta? Em que momento o continente, acostumado a crises políticas internas e turbulências econômicas, passou a ser palco de tensões militares com dimensões globais? O que antes parecia distante, agora invade as casas por meio dos noticiários, transformando-se em motivo de debate e incerteza.
O cenário não se limita ao embate entre Caracas e Washington. O Brasil, que historicamente se colocou como mediador regional, vê-se, ainda que indiretamente, no epicentro de uma outra disputa. A ligação entre Jair Bolsonaro e Donald Trump, somada às investigações em curso no país, coloca Lula e o ministro Alexandre de Moraes em uma posição que, em muitos aspectos, ecoa além das fronteiras nacionais. Não é apenas uma questão jurídica ou institucional. É também um reflexo do reposicionamento das tensões globais: líderes sul-americanos e norte-americanos conectados em linhas de conflito que antes se restringiam a arenas distantes.
O mundo parece atravessar um processo de deslocamento. Conflitos que não existiam, existem. Tensões que pareciam improváveis, tornam-se realidade. A América do Sul, vista por muito tempo como periferia das grandes disputas internacionais, se transforma em território de disputas políticas, jurídicas e até militares.
A pergunta que fica não é o que acontecerá, mas como se chegou até aqui. Se os conflitos se movem, será o continente capaz de absorver, compreender e responder a essas novas pressões? O futuro não está mais distante, em desertos ou montanhas além-mar. Ele está diante de nós, nas páginas dos jornais, na vida política dos países vizinhos e nas escolhas que cada nação fará.