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O silêncio não protege as vítimas

Em uma sociedade que ainda insiste em silenciar as vítimas, falar sobre temas polêmicos não é apenas necessário: é urgente. O vídeo publicado pelo influenciador Felipe Bressanim Pereira, o Felca, que denunciou a exploração sexual de crianças e adolescentes em plataformas digitais, expôs uma ferida dolorosa e mostrou, na prática, a força que a exposição pública tem em mobilizar a sociedade.

O resultado foi imediato: a ONG SaferNet registrou um aumento de 114% no número de denúncias de material envolvendo abuso e exploração sexual infantil após a publicação do vídeo.

Os números falam por si. Entre os dias 6 de agosto e 12 de agosto, foram mais de 1.600 denúncias únicas enviadas ao canal da SaferNet, contra 770 no mesmo período do ano passado.

Esse salto demonstra que o problema sempre esteve ali, mas era invisível, encoberto pelo medo, pela vergonha e pelo silêncio. Felca fez aquilo que muitos evitam: tocou na ferida, escancarou a realidade e, com isso, incentivou milhares de pessoas a agir.

Há quem critique a exposição desses temas sob o argumento de que se trata de sensacionalismo. Mas o que é mais sensacionalista: falar sobre o problema ou fingir que ele não existe? Cada denúncia registrada representa não apenas a chance de interromper um ciclo de violência, mas também a possibilidade de salvar uma criança da exploração.

O impacto desse episódio mostra que a omissão tem um preço altíssimo. Por décadas, os crimes de abuso e exploração sexual infantil foram tratados como tabu, empurrados para debaixo do tapete.