As ruas e praças de uma cidade não são apenas pontos no mapa. Elas carregam símbolos, memórias e escolhas sobre o que queremos lembrar. Por muito tempo, esse espaço de memória foi ocupado por nomes de políticos, grandes latifundiários ou militares que, apesar de serem importantes personagens históricos, em muitos casos estiveram longe de representar valores que defendemos hoje. O recente movimento para substituir essas homenagens mostra que é possível contar outra história — uma que valorize quem construiu, cuidou e inspirou.
No Amazonas, o Ministério Público Federal pediu a troca de nomes ligados a apoiadores da ditadura, período marcado por violações de direitos. No Distrito Federal, a ponte que homenageava Costa e Silva, o ex-presidente e general do AI-5, agora relembra Honestino Guimarães, jovem estudante assassinado pelo Regime Militar. A intenção é clara: trocar símbolos de autoritarismo por referências de coragem e compromisso com a democracia.
Mas não é só em casos políticos que essa mudança importa. Em Taguatinga (DF), a praça da QNL 12 leva o nome de Maria Clara, bióloga formada pela Universidade de Brasília (UnB), apaixonada pela natureza e responsável por cuidar daquele espaço desde a infância. Ela e a família revitalizaram o lugar, plantaram árvores, instalaram bebedouros e criaram um refúgio verde para a comunidade e, principalmente, para a vida selvagem confinada aos centros urbanos. Sua história não é de gabinete nem de palanque. É de dedicação concreta e amor pelo coletivo.
Dar nomes a partir dessas trajetórias é mais do que uma homenagem. É um recado para o futuro: os espaços públicos devem refletir o melhor de nós. Cada placa pode ser um convite para lembrar que o exemplo de quem faz a diferença vale mais do que o de quem apenas ocupou o poder. Infelizmente, em 2020, Clara partiu após uma cirurgia. No entanto, a mensagem de cuidado com a natureza e a delicadeza com o valor de cada ser vivo, continuará. É o que queremos lembrar: não de generais ou políticos, mas de quem, em sua simplicidade, escolheu cuidar. Sem holofotes, câmeras ou microfones. Sem o retorno de grandes investimentos ou verbas públicas. E, ainda assim, escolheu cuidar. Cuidar por amor. Cuidar pelo cuidado. Lembranças que valem, que prestam e que inspiram.