A infância brasileira está em perigo e o inimigo não se esconde mais. Ele se apresenta em vídeos, desafios virais, "trendings" de aparência inofensiva, mas que carregam uma violência silenciosa e persistente: a adultização precoce, a exposição sem limites e a exploração da imagem de crianças em redes sociais.
A recente comoção provocada por denúncias de influenciadores, que mostraram meninas sendo expostas de maneira indevida no ambiente digital, foi o estopim de um debate que já deveria estar resolvido. É inaceitável que, em pleno 2025, ainda discutamos o óbvio: crianças não devem ser tratadas como produtos. E a internet, por mais descentralizada que seja, precisa ter regras claras quando se trata da proteção de menores.
Nesse contexto, a posição do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, ao se comprometer com a votação urgente de projetos que tratam da proteção infantojuvenil nas redes é um sinal positivo. Mas a urgência das palavras precisa se transformar em efetividade legislativa. O Congresso não pode falhar com quem ainda não tem voz para se defender.
É preciso entender que não se trata de censura ou moralismo. Trata-se de garantir que o desenvolvimento de crianças aconteça com dignidade, segurança e liberdade. Não podemos mais normalizar o fato de que crianças de 5, 6 ou 9 anos estejam expostas em plataformas que operam por algoritmos feitos para prender a atenção, e não para proteger inocências.
Segundo dados recentes, mais de 80% dos brasileiros entre 9 e 17 anos já estão nas redes. Entre os mais novos, a presença cresce a passos largos. Isso, por si só, já é um alerta. Mas o maior problema é o que consomem, o que produzem e, principalmente, o que são induzidos a ser — adultos antes da hora, personagens de roteiros que não entenderam, alvos de interesses que não enxergam.
A legislação precisa ser dura. A responsabilização das plataformas, inegociável. A remoção de conteúdo abusivo, imediata. É hora de deixar claro: a infância é um bem público, e deve ser protegida como tal.
O Brasil não pode continuar exposto à lógica das big techs, que se alimentam de engajamento, ainda que isso custe a integridade de uma geração inteira. O tempo da omissão passou. É hora de enfrentar essa realidade com coragem política, clareza moral e, acima de tudo, compromisso com o futuro. Porque proteger uma criança, hoje, é salvar o que ainda resta de humanidade em nossa sociedade.