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A ganância sufocando a Amazônia

A COP30, que colocará Belém do Pará no centro do debate climático mundial, deveria ser motivo de orgulho nacional. Pela primeira vez, o coração da Amazônia receberá líderes, cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil do mundo inteiro para discutir o futuro do planeta. Mas, infelizmente, o que poderia ser símbolo de acolhimento e protagonismo verde está sendo manchado por uma onda de oportunismo revoltante: os preços abusivos cobrados por hotéis e locações temporárias na capital paraense.

Não se trata de uma simples valorização natural de mercado, como ocorre em grandes festas populares, como o Carnaval ou o Réveillon. O que se vê em Belém é uma exploração descarada. Diárias que, em tempos normais, custariam R$ 300, estão sendo anunciadas por valores que ultrapassam dezenas de milhares de reais. Apartamentos simples estão sendo oferecidos por cifras que insultam a inteligência de qualquer cidadão brasileiro. Isso não é turismo de alta temporada — é exploração, é ganância institucionalizada.

A região amazônica, há tanto tempo esquecida pelo poder público e pelas políticas de incentivo ao turismo sustentável, finalmente terá holofotes internacionais. Era a chance perfeita de mostrar ao mundo sua riqueza cultural, seu povo acolhedor e seu papel essencial na luta contra as mudanças climáticas. Em vez disso, o que se apresenta ao visitante é uma cidade dominada pela lógica do lucro fácil e pela especulação selvagem.

Pior ainda: esses preços não apenas afastam turistas e entusiastas do tema ambiental, como também impedem a participação de delegações de países mais pobres, de lideranças indígenas e de movimentos sociais que deveriam estar no centro desse diálogo. A COP não é um evento VIP para poucos privilegiados. É, ou ao menos deveria ser, um espaço democrático de construção coletiva.

Nossas autoridades, que tanto se esforçaram para sediar a conferência na Amazônia, precisa tomar uma atitude firme. A acomodação justa é um direito, não um luxo. É preciso haver regulação, fiscalização e, sobretudo, vergonha na cara. Não podemos permitir que a primeira COP amazônica seja lembrada como o evento onde a floresta foi ofuscada por cifras absurdas.

Se queremos liderar o debate ambiental com credibilidade, devemos começar mostrando respeito ao próprio território e ao povo que nele vive. Que a COP30 seja marcada pelo compromisso com a justiça climática — e não pelo vexame da ganância.