Diferentemente do que se espera de alguém prestes a ser condenado pela Justiça, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou o dia esbanjando bom-humor nesta quarta-feira (23).
É que, além da disputa jurídica, Bolsonaro acredita ter uma guerra pessoal com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Moraes é relator do processo em que Bolsonaro consta como réu sob acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado contra a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
Bolsonaro já dá como certo que o ministro irá votar por sua condenação com o apoio da maioria dos ministros da Corte.
Os bolsonaristas acreditam ter apenas o voto de André Mendonça e Nunes Marques e algum atenuante de Luiz Fux a favor do ex-presidente. Os demais oito ministros, tendo à frente o relator, devem votar pela condenação.
Então por que o bom-humor? Porque, pelo menos na disputa política e pessoal contra Alexandre de Moraes, Bolsonaro acha que se saiu melhor do que o adversário.
Enquanto passava o dia esperando a resposta do ministro ao pedido de esclarecimentos da defesa sobre as medidas restritivas que lhe foram impostas, Bolsonaro festejava as dezenas de análises na mídia de que Moraes errou a mão nas medidas.
A defesa de Bolsonaro havia pedido que Moraes explicasse exatamente com quem e quando o presidente pode se expressar, já que o magistrado havia determinado que ele não podia fazer declarações replicadas nas redes sociais.
Segundo os advogados de Bolsonaro argumentam, o ex-presidente não tem como controlar o uso que terceiros farão de suas falas, e não pode ter cerceada a liberdade de expressão.
Até as 19h, o ministro não havia respondido. Mas, independentemente de qualquer coisa, Bolsonaro acredita que já venceu este round contra o ministro.
Acusado de tentar derrubar as regras da democracia no país, o ex-presidente usou das regras da própria democracia para pintar Alexandre de Moraes como um ditador, um autoritário.
Apenas os bolsonaristas mais exaltados acreditam de fato que o ministro seja um ditador. Mas ganha corpo na opinião pública a visão de que ele está agindo de maneira autoritária, atropelando as regras do Direito.
Se essa versão se cristalizar, Bolsonaro sairá derrotado na Justiça, mas vitorioso na política. E a disputa política é o que resta ao ex-presidente.
Vitorioso na política, o e-presidente acredita que pode até aprovar uma anistia no Congresso.
Ou, se ajudar a eleger em 2026 seu candidato ao Palácio do Planalto, aí Bolsonaro pensa ter garantido o indulto presidencial e sua volta por cima.