O turismo de aventura vive uma explosão de popularidade. Caminhadas por trilhas desafiadoras, saltos de parapente, escaladas e cachoeiras isoladas deixaram de ser exclusividade de atletas ou entusiastas experientes para se tornarem desejo comum de milhares de viajantes em busca de experiências intensas — e, muitas vezes, de uma boa foto para as redes sociais. Mas por trás do crescimento desse segmento, há uma pergunta incômoda: estamos preparados para lidar com os riscos que ele traz?
A resposta parece caminhar na contramão do entusiasmo. O Brasil ainda não possui uma legislação federal específica para regulamentar as atividades de turismo radical. As exigências mínimas de registro esbarram na falta de fiscalização efetiva. Com isso, empresas operam sem capacitação, condutores atuam sem formação técnica e turistas seguem para trilhas ou saltos perigosos confiando apenas em promessas vagas e imagens chamativas.
Enquanto o setor avança em ritmo acelerado, a regulação caminha lentamente. A ausência de protocolos nacionais, de normas padronizadas de segurança e de um sistema de certificação contínua para os profissionais coloca em risco não apenas os viajantes, mas a credibilidade do turismo de natureza como um todo. Em nome da emoção e da estética, ignora-se muitas vezes a estrutura básica necessária para que a aventura seja também segura.
Outro ponto crítico é a influência das redes sociais. A cultura da performance digital transformou a viagem em vitrine. Imagens de trilhas perigosas, saltos arriscados e paisagens inacessíveis são compartilhadas como se fossem atividades simples. Essa distorção cria falsas expectativas e leva muitas pessoas a se colocarem em situações para as quais não têm preparo físico ou emocional. Quando o espetáculo digital se sobrepõe à consciência do risco, o resultado pode ser trágico.
A reflexão é inevitável: quem deve agir? O poder público, certamente, com políticas claras, fiscalização ativa e campanhas educativas. O setor privado, com profissionalismo, treinamento e responsabilidade. Mas o turista também tem um papel inegável. É preciso compreender que aventura exige preparo. Que cada trilha, cada salto, cada descida em corredeiras envolve riscos que não podem ser ignorados em nome da experiência perfeita ou da postagem ideal.
O turismo de aventura não deve ser visto como vilão. Ele é, sem dúvida, uma das formas mais transformadoras de se conectar com a natureza e com os próprios limites. Mas precisa ser tratado com a seriedade que merece. Não se trata apenas de regulamentar um mercado em crescimento, mas de valorizar a vida e garantir que cada experiência extraordinária seja, acima de tudo, segura.
Se o Brasil deseja se afirmar como destino de experiências intensas e marcantes, deve começar reconhecendo que viver o inesquecível não pode significar flertar com o irreparável. A emoção é legítima, mas só é completa quando termina bem.