Convite para uma Festa Junina em um clube na área central de Brasília. No texto, poderia logo se notar que se tratava de um clube famoso e uma arte bonita acompanhava uma baita divulgação nas redes sociais. Nos comentários, muitas pessoas afirmavam ir. As fotos da campanha condiziam com a decoração do local. Impecável! Tudo feito para reproduzir, com muito glamour, o que poderia ser uma festa no interior. Porém, a estética ali soava como quando se tenta contar uma história de infância: tudo é melhorado e suavizado, como se a memória tivesse dado um jeito de tirar as partes feias e deixar apenas os detalhes agradáveis. Sim, chegou aos cortejos de São João aquela que é a mais temida: a gourmetização.
Sim, gourmetizaram até os arraiais. Aquela história de festinha da igreja da rua de baixo ou do colégio do sobrinho ficou no passado. Agora, não apenas se vai ao festejo pela diversão, pelo forró de qualidade duvidosa e o tão esperado momento do acendimento da fogueira. Tudo virou experiência para publicar nas redes sociais. Não se ouve crianças estourando estalinhos, não há fogueiras para que a fumaça não traspasse o odor aos trajes do público (se, ao menos, fosse por uma causa ambiental). O pior: não há quadrilha - pois, ali, diferentemente das quermesses religiosas ou escolares, não há voluntários para dançá-la.
Aliás, o voluntariado, de boa fé, gratuito e pela tradição, é o contraposto daquele ambiente, que é unicamente comercial. O público não é visto como quem está ali para curtir a festa, mas sim, apenas como clientes que, além de consumir, também divulgam cada espaço instagramável feito, exclusivamente, para ser compartilhado nas redes sociais e atrair mais clientes. Os enfeites e cenários simulam uma cultura brasileira, mas, talvez, de uma forma que esta se torne mais palatável para o restante do mundo - e para os lucros. Aliás, essa é a parte principal: o dinheiro. O preço dos alimentos é surreal para justificar os novos ingredientes - que não são os mesmos das receitas tradicionais, pois o paladar dos clientes é mais sofisticado e a montagem do prato conta para a foto antes de comer.
Talvez, este seja um movimento natural das sociedades. Não há o que fazer. Não há como querer ir contra. Assim como já acontece pela gentrificação, aquele processo de transformação urbana em que áreas, antes populares, passam por valorização imobiliária, atraindo moradores de maior renda e expulsando os antigos - e mais pobres.
A parte boa é que ainda dá pra conferir uma Festa Junina com o significado que sempre teve. Talvez, tendo que se afastar um pouco do centro da cidade, mas ainda dá. Sempre há uma escola, uma igreja ou até famílias que ainda mantêm viva essa tradição que está presente na história do nosso Brasil.