No momento em que Brasília 'chacoalha' a República, 'atropelando' os últimos resquícios republicanos de equilíbrio fiscal - 'caçando' receitas que financiem seus programas assistencialistas, último recurso que lhe resta para manter viva a expectativa, até agora, pouco provável, de vitória eleitoral no pleito presidencial de 2026 - a renda do brasileiro continua cada vez mais distante do patamar exibido pela União Europeia.
Basta observar o descompasso entre a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), de 2,2% para este ano, ante uma expansão da renda não superior a 1,3%, em igual período.
Com base nessa constatação, o economista, diretor-presidente da MCM Consultores e colunista econômico do Estadão, Cláudio Adilson Gonçalez calcula que seriam necessários, pelo menos, 50 anos, para que brasileiros e europeus se 'ombreassem', em termos rentistas. "Esse desempenho fraco é, principalmente, consequência do baixo crescimento da produtividade do trabalho", dispara.
Na raiz do atraso laboral tupiniquim, Gonçalez atesta: "Há vários motivos que explicam isso, mas chamo a atenção para um ponto poucas vezes mencionado: a desindustrialização precoce. Há uma profusão de trabalhos que analisam as causas da baixa produtividade da indústria manufatureira brasileira. Mas aqui estou invertendo a relação de causalidade, ou seja, meu foco é na desindustrialização como uma causa importante da baixa produtividade da economia como um todo".
Embora admita que, no processo de desenvolvimento econômico, "as manufaturas percam participação na economia, pois, conforme enriquece, a sociedade tende a consumir proporcionalmente cada vez mais serviços", o executivo alerta para "a rapidez e a precocidade da desindustrialização no Brasil".
E os números, que falam por si, também impressionam: "a preços correntes, em meados da década de 1980, as manufaturas correspondiam a cerca de 35% do valor adicionado do PIB; em 2024, dados preliminares indicam que essa participação está em torno de 14%. Ou seja, o Brasil se desindustrializou antes de sair da chamada armadilha da renda média", fulmina.