Nas últimas semanas, os holofotes digitais se voltaram para a separação de Virginia Fonseca e Zé Felipe. Antes disso, a coroação de Virginia como rainha de bateria da Grande Rio foi o tema dominante. E, como em um looping infinito, as redes sociais seguiram girando em torno de nomes, polêmicas e episódios que, embora embalem manchetes e provoquem reações acaloradas, pouco ou nada acrescentam ao debate público essencial.
Não se trata aqui de desmerecer pessoas ou histórias. A cultura pop tem seu valor e cumpre um papel social. Mas a reflexão que se impõe é sobre a balança cada vez mais desequilibrada da atenção coletiva. Como sociedade, estamos canalizando nossa energia — e audiência — para o efêmero, para o fútil, para o que, ao final do dia, não nos torna mais conscientes, informados ou preparados para os desafios que nos cercam.
As redes sociais se consolidaram como as maiores vitrines do comportamento humano. São plataformas de expressão, mas também de distração. Os algoritmos, desenhados para premiar o engajamento, acabam premiando o que mais provoca, choca ou entretém — e não necessariamente o que mais importa. Enquanto milhões comentam a vida pessoal de influenciadores, tragédias humanitárias seguem à margem do feed. Guerras, fome, educação precária, mudanças climáticas e decisões políticas cruciais são engolidas pelo buzz do momento.
Imagine se metade dessa mobilização digital se voltasse para causas sociais, para o combate à desigualdade, para a defesa da democracia, para o incentivo à leitura e à formação crítica. Imagine se os milhões de comentários fossem sobre projetos de lei, orçamento público, educação básica, saúde pública. Imagine o país que construiríamos.
Mas a responsabilidade não é só das plataformas ou dos influenciadores. É nossa, como consumidores de conteúdo, como cidadãos. Precisamos urgentemente rever o que escolhemos assistir, compartilhar, comentar. A audiência tem poder — e, com ela, vem a responsabilidade de construir um debate mais rico, mais profundo e mais útil para o futuro coletivo.
Enquanto seguimos mergulhados no conteúdo "vazio", é preciso perguntar: aonde vamos parar? Porque se não redirecionarmos o olhar, corremos o risco de estarmos bem informados sobre tudo — menos sobre o que realmente importa. E, nesse caso, o preço do entretenimento pode ser a própria consciência.