Por: Cláudio Dantas*

Cortem as cabeças, Michelle?

Michelle Bolsonaro mandou demitir Fábio Wajngarten por uma crítica besta numa conversa privada vazada com o propósito de semear a discórdia dentro do núcleo duro do bolsonarismo. Wajngarten é do núcleo duro? É de confiança ou mais um aproveitador? A ex primeira-dama fez bem em cortar sua cabeça?

Antes de ser eleito em 2018, Jair Bolsonaro era um deputado exótico tratado com pouca seriedade pela mídia em geral. Wajngarten foi responsável por mudar essa imagem, ao aproximá-lo dos donos das quatro maiores emissoras de TV do país. Colocou Bolsonaro, não só nas salas dos chefões, mas no palco de programas de grande audiência.

Entrou ao vivo no Teleton com Silvio Santos, foi diversas vezes no SuperPop de Luciana Gimenez, virou capa de várias revistas e jornais tradicionais. Já no governo, mesmo sem cargo oficial, costurou reuniões, abriu canal com colunistas e repórteres, inclusive críticos a Bolsonaro; no cago de Secom, tentou ao máximo profissionalizar a comunicação.

No 7 de setembro de 2019, levou a Brasília os CEOs das emissoras, colocou Silvio Santos e Edir Macedo ao lado do presidente da República para assistir ao desfile. Na véspera, organizou um bate-papo com lanche no Palácio da Alvorada.

A facada de Adélio

No momento mais grave da história de Bolsonaro, o atentado de 8 de setembro de 2018, Wajngarten foi quem organizou, em questão de poucas horas, a ida do cirurgião Antônio Macedo às pressas a Juiz de Fora e depois a transferência do ainda candidato para o hospital Alberto Einstein.

Nas buscas e apreensões determinadas por Alexandre de Moraes contra Bolsonaro, Wajngarten reagiu prontamente, fretando avião e levando a equipe de advogados para Brasilia. Quando da internação emergencial de Bolsonaro em Manaus, no ano passado, operacionalizou sua remoção com resgate aéreo a pedido da equipe médica.

Meses atrás, articulou a contratação de criminalistas renomados, tanto para Bolsonaro como para Braga Netto, e mantinha diálogo com integrantes do Supremo, sempre buscando reduzir a pressão sobre o ex-presidente num ambiente tão inóspito que, por pouco, não virou réu também na trama golpista.

Wajngarten tem um jeitão que assusta no início, fala o que outros assessores próximos não têm coragem. Não é fonte de ninguém, embora fale com todo mundo. Tem uma dedicação quase obsessiva por Bolsonaro e acredita como poucos em sua reabilitação política. Vive para esse projeto político há anos, mas não precisa dele para viver.

Se Bolsonaro quiser que Michelle seja a sua candidata, aposto que o ex-secretário faria tudo de novo para ajudá-la e até blindá-la dos ataques que virão. Faria isso com quem quer que o ex-presidente indique em seu lugar, caso permaneça inelegível. Sobre a piada infeliz com Lula, é só isso: uma piada infeliz.

Até porque, como judeu, Wajngarten abomina a política de Lula e da esquerda em relação ao sionismo, o apoio a grupos terroristas e acenos a ditadores de toda espécie.

Michelle deveria rever o Levítico 19:18 que diz "não procurem vingança nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo". Eu faço como em Atos 4:20, "porque não podemos deixar de falar daquilo que temos visto e ouvido".

*Jornalista