A princípio amenizado pelo setor, o tarifaço perpetrado pelo irascível presidente dos EUA, Donald Trump, continua a ser objeto de preocupação crescente da indústria, conforme admitiu, na última quarta-feira (30), o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, em entrevista concedida à uma emissora de rádio.
Para o dirigente, além do fator externo, no âmbito interno, o maior problema, recorrente, são os juros elevados, a exemplo da taxa básica (Selic), já no altíssimo patamar de 14,25% ao ano e prestes a subir ainda mais, na próxima reunião do Copom-BC (Comitê de Política Monetária do Banco Central), prevista para ocorrer nessa semana.
Ao comentar, em específico, a questão do aperto monetário, Alban explicou que este implica dois efeitos negativos, ao mesmo tempo, pois, além de prejudicar os cofres públicos - devido ao aumento cavalar do custo da dívida pública federal - afeta o setor privado, ao inibir novos investimentos industriais.
"Temos uma Selic que embute juros reais de quase 9%, o que é astronômico. Mesmo assim, o mercado financeiro embute juros de 12%. É impossível a atividade econômica se desenvolver de maneira sustentável e sadia a médio e longo prazo", ressaltou o dirigente industrial, ao pregar a necessidade de 'persistência no diálogo' como a melhor estratégia, ante à a nova política comercial adotada pelos EUA. "Isso não significa que sejamos acomodados. Precisamos ser proativos. Perseverar no diálogo em momentos tão tensos é imprescindível", acrescentou.
Ao mesmo tempo, o líder industrial entende que o país precisa 'estar atento' aos efeitos da medida 'trumpeana' sobre a reorganização dos fluxos de comércio do setor produtivo nacional brasileiro. "O mais urgente não são os 10% de tarifas impostas sobre o Brasil, mas o impacto da sobreoferta de produtos chineses aqui por causa dessa guerra comercial entre Estados Unidos e China", alertou.
Alban reiterou, ainda, que somente um 'pacto nacional entre os poderes da República, os setores da economia e a sociedade civil viabilizará o desenvolvimento econômico, ante um cenário de polarização política.