Quando os holofotes da Marquês de Sapucaí e do Anhembi se acendem e o espetáculo das escolas de samba toma conta do Carnaval, é fácil se deslumbrar com as alegorias suntuosas, as fantasias deslumbrantes e o ritmo contagiante da bateria, além do cantar com garra e emocionado de todos os integrantes de agremiações. Mas por trás desse show que encanta a todos, há um elemento essencial que muitas vezes não recebe o devido reconhecimento: a comunidade. São os componentes das alas que, com muita dedicação, e, claro, muita paixão, dão vida ao desfile e transformam o desfile em um espetáculo inesquecível.
O verdadeiro coração das escolas de samba bate nos barracões, nas quadras e nas ruas das comunidades que se envolvem o ano inteiro na preparação do desfile. São costureiras, ferreiros, escultores e tantos outros artistas anônimos que criam a magia do Carnaval. Mas são também os milhares de integrantes das alas que, longe dos holofotes, ensaiam incansavelmente, cantam com a alma e desfilam com orgulho, levando no peito o amor por suas escolas, isso se concretiza no que vimos nos últimos dias, seja pessoalmente nos sambódromos, quanto pela televisão. O que vimos não foi somente o destaque da rainha de bateria ou a paradinha da bateria, além do espetáculo à parte da comissão de frente, mas sim um mar de gente apaixonada por aquilo e que estavam lá por amor ao pavilhão que segue.
Cada ala que cruza a avenida representa uma história, um sonho coletivo, um pedaço da identidade de um povo que encontra no samba a sua voz. Eles não são apenas figurantes de um espetáculo, mas protagonistas de uma manifestação cultural que resiste e se reinventa ano após ano. Quem estava mais próximo da avenida, principalmente nos camarotes, pôde sentir essa emoção e esse sentimento de perto. Uma garra na voz, e quando viam o público cantando junto?! Era mais uma comemoração.
Valorizar essas pessoas vai além de aplaudir na arquibancada. É reconhecer que o Carnaval não existe sem elas. É entender que a cultura popular não pode ser esquecida quando os desfiles terminam. É enaltecer aqueles que, muitas vezes sem recursos, encontram na escola de samba um espaço de pertencimento, arte e alegria.