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Quando a saúde fica em segundo plano

A busca desenfreada por um padrão estético inatingível tem levado um número alarmante de pessoas a recorrer a procedimentos arriscados e ao uso indiscriminado de medicamentos sem prescrição médica. O problema, que já vinha crescendo nos últimos anos, ganha contornos ainda mais preocupantes com a popularização de anabolizantes, coquetéis de antidepressivos sem acompanhamento adequado, substâncias injetáveis para emagrecimento e um verdadeiro mercado paralelo de tratamentos sem embasamento científico.

Recentemente, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) divulgaram uma nota de alerta à população sobre os "graves riscos" associados ao uso de medicamentos injetáveis de origem alternativa ou manipulados para tratar obesidade e diabetes. Os análogos do GLP-1 e GIP, como a semaglutida (presente no Ozempic e Wegovy) e a tirzepatida (do Mounjaro e Zepbound), são aprovados por agências reguladoras sérias, mas têm sido utilizados de forma indiscriminada, sem critérios, por quem busca soluções rápidas para um corpo padronizado.

O problema não está apenas no uso inadequado desses medicamentos, mas na mentalidade que os impulsiona. Vivemos uma era onde o imediatismo e a pressão estética fazem com que muitas pessoas se arrisquem sem considerar as consequências a longo prazo. As redes sociais, repletas de influenciadores propagando "receitas milagrosas", reforçam a ideia de que a solução está em uma seringa ou em um comprimido. O resultado são efeitos colaterais perigosos, dependência química e, em casos mais graves, danos irreversíveis à saúde.

Anabolizantes seguem a mesma lógica. O desejo por um corpo musculoso e definido faz com que muitas pessoas recorram a substâncias que alteram o metabolismo, sobrecarregam o fígado e podem desencadear distúrbios hormonais severos. Os efeitos colaterais incluem disfunções cardíacas, infertilidade e transtornos psiquiátricos. Ainda assim, o uso dessas substâncias é banalizado por uma cultura que enaltece o resultado imediato e ignora o custo para a saúde.