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A criação da primeira vacina da dengue em dose única

Amor, persistência, orgulho, vitória, gratidão. Foram essas as escolhas de cada um dos cinco participantes desta matéria, quando convidados a resumir em uma só palavra o projeto da vacina da dengue do Instituto Butantan. Juntos, os termos ajudam a traçar o percurso de desenvolvimento da Butantan-DV: uma história repleta de desafios, provações, alegrias e conquistas, tal qual uma "Jornada do Herói" - modelo narrativo comum em diversas culturas e consolidado pelo mitólogo Joseph Campbell (1904-1987), em que o protagonista é convocado para uma aventura e supera inúmeras adversidades, até retornar para casa transformado.

Neuza, Vanessa, Claudia, Patrícia e Flávio fazem parte do plano da vacina desde seu início, em 2010. Aqui, eles representam os mais de 50 colaboradores - e protagonistas - que integram a "família dengue": brasileiros e brasileiras que contribuíram para o desenvolvimento do imunizante tetravalente recém-aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que, em breve, estará à disposição da população brasileira.

"Somos uma pequena amostra de um time em que todos eram muito importantes. Também gostaria de destacar nominalmente o empenho dos coordenadores Gustavo Gonçalves Perrotti, Everton Magno De Sousa, Vivian Massayo Kazyama e Alyne Vieira Barros, que não participaram desse encontro, mas foram essenciais para o desenvolvimento do Insumo Farmacêutico Ativo da vacina dengue", reforça Neuza.

Foram mais de 10 anos de convivência intensa, compartilhando frascos, células, microscópios, cálculos, planos e planilhas, além de alegrias e perrengues que aconteciam dentro e fora do laboratório. Após cinco anos, e a pedido do Portal do Butantan, o grupo se reuniu novamente no Laboratório Piloto de Vacinas Virais (LVV) para relembrar alguns dos momentos mais inesquecíveis, emocionantes e divertidos dessa incrível jornada.

Foi na década de 1980 que o Brasil teve suas primeiras epidemias de dengue documentadas, segundo dados do Ministério da Saúde. Os casos foram registrados em Boa Vista, em Roraima, e eram causados pelos sorotipos 1 e 4 do vírus. A partir de então, a doença começou a se espalhar pelo país até superar a inédita barreira de 1 milhão de casos prováveis em 2010. Essa marca ecoou de forma ainda mais intensa a necessidade de se desenvolver um imunizante contra a doença, que até hoje não possui tratamento específico.

Nesse mesmo período, a pesquisadora Neuza Gallina Frazatti já liderava o LVV. Sempre impulsionada pela vontade de inovar, Neuza já havia trabalhado com o desenvolvimento de diferentes vacinas - como as contra a raiva e o rotavírus -, quando foi designada para uma importante tarefa: a pedido do ex-diretor do Instituto e então diretor da Fundação, Isaías Raw (1927-2022), a bióloga iria comandar o desenvolvimento da candidata vacinal contra a dengue do Butantan.