Por: Ana Laura Gonzalez - SP

São Paulo propõe soluções climáticas do agro na COP30

Reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp | Foto: Ayrton Vignola / Fiesp

O Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) recebeu, na segunda-feira (3), o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago. O encontro, presidido por Jacyr Costa, discutiu as contribuições do setor agropecuário brasileiro para a agenda climática global e apresentou o plano “Agricultura Tropical Sustentável: Cultivando Soluções para Alimentos, Energia e Clima”, elaborado por mais de 40 entidades do agronegócio.

O documento foi entregue ao embaixador pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues e propõe a agricultura tropical sustentável como eixo estratégico na mitigação das mudanças climáticas. O texto defende que o modelo produtivo brasileiro pode servir de referência a outros países de clima semelhante.

Segundo Rodrigues, a COP30 representa “uma oportunidade histórica para reposicionar a agricultura tropical como eixo das soluções climáticas globais”, ao integrar segurança alimentar, energética e desenvolvimento rural sustentável com tecnologias de baixa emissão de carbono.

O vice-presidente da Fiesp e campeão climático da COP30, Dan Ioschpe, ressaltou que o agronegócio tem papel central na agenda de ação climática, com destaque para biocombustíveis e recuperação de áreas degradadas. “Nossa tarefa não termina no dia 21 de novembro, ao contrário, ela está só começando”, afirmou.

O embaixador Corrêa do Lago avaliou que o plano demonstra a capacidade brasileira de oferecer soluções concretas. “A primeira obrigação da diplomacia é assegurar a paz e melhorar a vida das pessoas, e o Brasil está mostrando que está construindo soluções”, destacou.

Safra 2025/2026 deve registrar aumento na produção de grãos

Outro tema debatido na reunião foi a perspectiva para a safra 2025/2026. A previsão é de aumento de 1% na produção total de grãos, com potencial para novo recorde, impulsionado por soja e milho. A expansão de área plantada e a demanda crescente, inclusive para produção de etanol, sustentam o crescimento. O setor sucroenergético também segue fortalecido, com destaque para o etanol de milho, que vem se consolidando como alternativa estratégica para o mercado nacional.

De acordo com o engenheiro agrônomo André Pessôa, a produção de soja deve crescer 3,7% na área plantada, totalizando cerca de 177,67 milhões de toneladas, incremento de 3,6% sobre a safra anterior. O avanço é favorecido pela recuperação de produtividade em regiões como o Rio Grande do Sul. Apesar do superávit, a saca da soja pode recuar abaixo de R$ 100 em 2026, em razão do câmbio e da elevada oferta.

O milho, especialmente o de segunda safra, deve apresentar produtividade menor, com média de 95 sacas por hectare em algumas regiões. A rentabilidade pode cair até 37% em determinados cenários, refletindo custos elevados e juros altos.

Produção de proteínas animais deve crescer até 2026

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, informou que o Brasil manteve em 2024 a posição de maior exportador mundial de carne de frango, com 5,3 milhões de toneladas enviadas ao exterior e produção total de 15 milhões de toneladas. O país também figura como o quinto maior produtor de ovos, com 57,6 bilhões de unidades, e o quarto em carne suína, com 5,3 milhões de toneladas.

A ABPA projeta que a produção de carne suína alcance 5,55 milhões de toneladas em 2026, alta de 2,4% sobre o ano anterior, impulsionada pelas exportações, estimadas em 1,55 milhão de toneladas. A produção de carne de frango deve crescer 2%, chegando a 15,7 milhões de toneladas. O aumento da renda e o crescimento populacional — projetado para 9,7 bilhões de pessoas até 2050 — devem ampliar a demanda global por proteínas animais.

Setor sucroenergético mantém liderança mundial

Segundo Luciano Rodrigues, diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), a moagem de cana no Centro-Sul deve recuar para 596,9 milhões de toneladas, afetada por chuvas e incêndios. Ainda assim, a produção de açúcar superou 40 milhões de toneladas em 2024, mantendo o Brasil como maior fornecedor mundial.

A produção de etanol também registrou recorde, com 36,8 bilhões de litros em 2024, e deve crescer 5% na próxima safra, mesmo sob pressão de preços. O etanol de milho deve atingir 9,9 bilhões de litros em 2025/2026, aumento de 20% sobre o ciclo anterior, impulsionado pela expansão industrial e pela competitividade do grão.

Entre as políticas públicas consideradas favoráveis ao setor estão a regulamentação dos programas Mover, Nacional de Biometano, Combustível Sustentável de Aviação, Reforma Tributária e SAF+Combustível Marítimo.