Por: Moara Semeghini

Professor da Unicamp criou teoria que foi base para Nobel de Física 2025

Amir Ordacgi Caldeira, professor da Unicamp, é citado em Nobel de Física | Foto: Antoninho Marmo Perri/Divulgação Unicamp

O Prêmio Nobel de Física de 2025, entregue nesta terça-feira (7), pela Academia Real das Ciências da Suécia, em Estocolmo, teve como base o trabalho do professor titular do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp), Amir Ordacgi Caldeira.

Os experimentos realizados pelos três cientistas vencedores – o britânico John Clarke, da Universidade da Califórnia em Berkeley, o francês Michel H. Devoret e o americano John Martinis, ambos da Universidade da Califórnia em Santa Cruz – utilizaram um modelo teórico que leva o nome do cientista brasileiro, chamado "modelo de Caldeira-Leggett". “Caldeira” é uma referência ao professor da Unicamp, Amir Caldeira. O físico teve sua tese de doutorado, defendida em 1980, usada pelo trio vencedor do Nobel de 2025, todos reconhecidos por suas contribuições à mecânica quântica.

Já “Leggett” é referência ao físico-teórico Anthony Leggett, da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, que venceu o Nobel em 2003 e foi orientador do pesquisador brasileiro.

“O reconhecimento chegou como um presente pois fiz aniversário dia 6 de outubro e o prêmio foi anunciado dia 7”, disse o professor da Unicamp. O pesquisador assistiu à premiação ao vivo, pelo celular. “Vi quando anunciaram os premiados que fizeram o trabalho resultantes de nossa tese de doutorado. O prêmio reconheceu que toda a nossa ideia poderia ser realizada. O experimento foi comprovado!”, comemorou Amir Caldeira.

Os premiados usaram modelo de Caldeira-Leggett e demonstraram que os fenômenos da mecânica quântica, que pensávamos que só existiam no nível subatômico, podem se manifestar em sistemas grandes o suficiente para caber na mão.

De acordo com o pesquisador, o prêmio Nobel de Física de 2025 evidencia a importância da mecânica quântica para sistemas mais gerais do que aqueles para os quais a teoria havia sido originalmente desenvolvida. Ainda segundo Amir, o prêmio chama a atenção para a ciência feita no Brasil. “É evidente que investimento em ciência é importante para o País, que deve investir em alta tecnologia e ciência”, afirmou.

Sobre como os novos experimentos serão usados no futuro, o professor da Unicamp usa o exemplo do laser. “O cientista que desenvolveu o laser falava: ‘eu tenho uma solução em busca de um problema’. Ninguém jamais poderia imaginar que o laser faria cirurgias variadas ou mesmo que seria usado em impressora”, explicou Amir.

Comemoração

Em comemoração aos 45 anos do modelo Caldeira-Leggett, ao aniversário de 75 anos de Amir Caldeira e à sua longa carreira, uma conferência acontecerá em Campinas, na Casa do Professor Visitante da Unicamp e no no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), de 13 a 15 de outubro.

O evento reunirá 26 pesquisadores, incluindo Leggett e Caldeira, que discutirão diversas áreas influenciadas pelo modelo, como mecânica e informação quântica, materiais, ótica e biologia quântica, segundo informações da Sociedade Brasileira de Física. Mais informações sobre o encontro, clique aqui.

Sobre Amir Caldeira

Amir Caldeira é pesquisador na área de física da matéria condensada. Entre 2009 e 2014, coordenou o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Informação Quântica (INCT-IQ), iniciativa financiada pelo CNPq. Suas investigações concentram-se, principalmente, em problemas de dissipação quântica e sistemas de elétrons fortemente correlacionados. Atualmente, é professor do Departamento de Física da Matéria Condensada do Instituto de Física Gleb Wataghin, na Unicamp.

Graduou-se em Física em 1973 e concluiu o mestrado na mesma área em 1976, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Em 1980, obteve o doutorado em Física pela University of Sussex, no Reino Unido, sob orientação de Anthony Leggett. No mesmo ano, ingressou como professor na Unicamp.

Durante a década de 1980, realizou pós-doutorado nos Estados Unidos, atuando no Kavli Institute for Theoretical Physics (KITP), da University of California, e no Thomas J. Watson Research Laboratory, do IBM Research, em Nova Iorque. Entre 1994 e 1995, realizou um ano sabático na Universidade de Illinois, também com apoio do CNPq.

Desde 1982, Caldeira é bolsista de Produtividade em Pesquisa nível 1A do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).