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USP avalia as condições climáticas em SP

Uma urbanização acelerada e o descontrole nas políticas de planejamento podem fazer com que cidades cresçam de forma desigual. Os efeitos disso no bem-estar da população são muitos, incluindo variações no conforto térmico em diferentes bairros. Os resultados de uma pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP mostraram que a produção desigual do espaço urbano é capaz de gerar mudanças nos microclimas da cidade de São Paulo, indicando que regiões periféricas atingem temperaturas mais altas em comparação a áreas nobres.

Pelo mapeamento socioeconômico e pela coleta de dados climáticos em diferentes distritos, foi verificada a importância de uma construção urbana que considere fatores associados à desigualdade social e de renda. Ao estudar as variações microclimáticas de pontos internos e externos de um parque urbano, Fernando Rocha Reis, mestre em Geografia Física na FFLCH e autor da dissertação, quis investigar como aspectos da morfologia urbana moldam as condições de temperatura e umidade de certo local.

"Não queria só medir a temperatura da cidade, queria saber como as pessoas sentem essas diferenças de temperatura de forma desigual", diz o pesquisador ao Jornal da USP. Ele cita que o formato dos bairros, os materiais de construção utilizados, o nível de arborização e o espaçamento entre lotes já são algumas evidências para essas possíveis alterações microclimáticas.

Para realizar um primeiro mapeamento de desigualdades socioespaciais em São Paulo, Fernando Reis utilizou o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Com essa medida, foi mensurada a qualidade de vida das 32 Subprefeituras do município a partir dos critérios de renda, educação e saúde. Também foi usado o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), que trabalha com dados em nível distrital. Com isso, o Jardim Paulista e a Vila Jacuí - localizados, respectivamente, nas Subprefeituras de Pinheiros e São Miguel Paulista - foram os distritos escolhidos para a comparação.

Segundo o pesquisador, as duas localidades apresentam nítidas diferenças em suas paisagens urbanas, a começar pelo nível de arborização - fator importante na manutenção do conforto térmico em cidades. Enquanto o Jardim Paulista (IDHM de 0,942) possui mais áreas sombreadas, a região da Vila Jacuí (IDHM de 0,736) tendia para o aproveitamento máximo dos terrenos para construção. Com o mapeamento da temperatura de superfície de cada um dos distritos, o pesquisador verificou que "áreas com índice de temperatura de superfície alta coincidiam com as áreas de IDHMs mais baixos, ou seja, as áreas periféricas".