Por: Ana Laura Gonzalez - SP

Pesquisa brasileira registra avanços promissores rumo à cura do HIV

Prevenção ainda é a melhor forma de evitar o vírus | Foto: Larissa Navarro/Alesp

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) publicaram na Journal of Infectious Diseases resultados promissores em estudos voltados à cura do HIV. Conduzido pelo médico Ricardo Sobhie Diaz, o trabalho envolveu protocolos combinados de tratamento e registrou testes 100% negativos em um dos voluntários.

Segundo Sobhie, a pesquisa utilizou uma estratégia multifacetada, incluindo intensificação das doses de antirretrovirais, alteração nos ciclos de ativação do vírus, reposição de células infectadas e aplicação de vacinas terapêuticas. O objetivo é superar a limitação do tratamento atual, que garante a “cura funcional” do HIV, mantendo o vírus indetectável e prevenindo a progressão para Aids, mas sem eliminá-lo completamente do organismo.

“Mesmo com o controle do vírus, os pacientes continuam a apresentar inflamações e danos celulares, um ambiente interno que acelera o envelhecimento e aumenta o risco de comorbidades”, explicou Sobhie. Ele afirmou que a equipe pretende aprofundar a análise do caso que apresentou resultado negativo total, além de avaliar os efeitos combinados das diferentes estratégias sobre a carga viral.

O trabalho científico reforça a relevância das pesquisas para um futuro em que o HIV possa ser erradicado. Para pessoas que vivem com o vírus há décadas, como Luis Otávio Baron, presidente da ONG Eternamente Sou, os avanços representam esperança, mas não substituem os cuidados contínuos. Diagnosticado há 37 anos, ele destaca a evolução do tratamento desde os primeiros coquetéis com múltiplas doses diárias até as terapias atuais, de administração única e com menos efeitos colaterais.

Cintia Nocentini, assistente social do Centro de Referência e Tratamento de Aids (CRT/Aids) de São Paulo, ressalta que, apesar dos avanços médicos, estigma e preconceito permanecem barreiras significativas. “Muitos não chegam ao diagnóstico ou interrompem o tratamento por vergonha ou medo de julgamentos”, afirmou. O cuidado adequado, segundo ela, protege a saúde do paciente e reduz o risco de transmissão, mesmo sem que seja necessário expor o diagnóstico publicamente.

Eduardo Barbosa, vice-presidente do Grupo Pela Vida, enfatiza a importância da chamada “cura social” do HIV. Diagnosticado em 1994, ele se tornou ativista e participou de pesquisas terapêuticas que contribuíram para o desenvolvimento e acesso a medicamentos mais eficazes e toleráveis. “A visibilidade e o ativismo foram essenciais para que novas drogas chegassem a todos os pacientes. Hoje, a prioridade é manter o tratamento e buscar avanços que promovam a eliminação do vírus”, destacou.

O impacto do HIV sobre a saúde crônica também é mencionado por quem convive com a doença. Baron relata a necessidade de monitorar hipertensão, inflamações e colesterol, mesmo com a carga viral indetectável. Ele e Barbosa defendem a continuidade dos investimentos em pesquisa para alcançar uma cura definitiva, capaz de prevenir comorbidades associadas à infecção.

Além dos aspectos clínicos, especialistas lembram que a sexualidade ainda é um tema cercado de tabus, o que dificulta prevenção e adesão ao tratamento. “A maior parte das infecções ocorre por via sexual, mas falar sobre sexualidade continua sendo um desafio na sociedade e nos serviços de saúde”, afirma Cintia. Baron complementa que o autocuidado, que inclui o uso de medicação preventiva, testagem e preservativos, é essencial para proteger a saúde individual e coletiva.

Embora os resultados da pesquisa da Unifesp ainda sejam preliminares, eles indicam caminhos importantes para a ciência e reforçam a necessidade de políticas públicas que integrem tratamento, prevenção, educação e combate ao preconceito. A expectativa é que futuras investigações ampliem o conhecimento sobre como eliminar o HIV de forma definitiva, promovendo não apenas a sobrevivência, mas a qualidade de vida das pessoas afetadas pelo vírus.