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Empresa de Valinhos cria tecnologia de reciclagem

Cientistas Carla Fonseca (esquerda) e Silmara Neves (direita) fundaram IQX | Foto: Divulgação/IQX

Por Maria Fernanda Esmeriz

No mês anterior à realização da COP30, o Brasil publicou o Decreto nº 12.688/2025, que regulamenta a logística reversa de embalagens plásticas e estabelece regras mais rígidas para a incorporação de conteúdo reciclado pós-consumo (PCR) nas embalagens.

Com sede em Valinhos, a IQX está na vanguarda de uma inovação da reciclagem de plásticos no país. A empresa desenvolveu uma linha de aditivos compatibilizantes que promovem melhor adesão entre diferentes tipos de polímeros (base de muitos materiais, como embalagens, roupas, peças de carro, fios elétricos e até objetos de uso doméstico), que permitem aumentar o teor de PCR nas embalagens, sem comprometer a qualidade do produto final. Em 2024, por exemplo, a tecnologia impediu que mais de 800 toneladas de resíduos plásticos fossem destinados a aterros.

A pesquisa foi desenvolvida pelas co-fundadoras da IQX e cientistas Carla Fonseca e Silmara Neves, ao perceberem um descompasso entre o que a reciclagem de plásticos promete na teoria e o que, de fato, é possível aplicar na prática industrial.

Em entrevista ao Correio da Manhã, Neves lembrou que o objetivo das pesquisadoras "sempre foi fazer com que a reciclagem deixasse de ser promessa e se tornasse realidade. Queríamos não apenas desenvolver um produto, mas criar uma tecnologia brasileira que contribuísse para o fortalecimento da cadeia do plástico, com impacto ambiental, econômico e social real".

O estudo dos aditivos compatibilizantes teve início após a constatação de que diferentes tipos de polímeros reciclados não se misturam bem. Sem tratamento adequado, essa combinação resulta em um material de baixa qualidade, sem condições de uso na indústria.

Com dosagens entre 1% e 3%, os aditivos IQX permitem o aproveitamento de materiais que antes eram rejeitados - como plásticos multicamadas e misturados - e transformam rejeitos complexos em insumos valiosos para a indústria.

Desafios

Pós-doutora no Instituto de Química da USP, Silmara Neves destacou o desafio de demonstrar a possibilidade de reunir inovação científica e escalabilidade e impacto real na cadeia produtiva. "No início, enfrentamos muitas dúvidas técnicas e ceticismo do mercado quanto à performance do reciclado com aditivos", contou. A superação de barreiras culturais foi outro entrave, como ela mesmo revelou: "ser mulher cientista e empreendedora na

indústria química ainda é romper resistências todos os dias".

A cientista caracteriza a incompatibilidade entre diferentes tipos de polímeros - presente em praticamente todas as embalagens que circulam no dia a dia - o maior obstáculo da reciclagem no Brasil.

"Com a COP 30 acontecendo aqui no Brasil, temos uma vitrine importante para mostrar que existe tecnologia nacional capaz de promover a economia circular com impacto real — ambiental, regulatório, produtivo e humano", compartilhou.