Por: Raquel Valli

Jornalista lança livro sobre suicídio de filho para prevenir outras mortes

Ministério da Saúde orienta que é fundamental buscar amparo em momentos de crise | Foto: Agência Brasil

A jornalista Ana Lúcia Vasconcelos, de Campinas, acaba de lançar o e-book “Um Pequeno Ensaio Sobre o Suicídio”. O filho dela, diagnosticado com esquizofrenia, tirou a própria vida em novembro de 1996. Ana conta que escreveu o texto na sequência, destroçada, abrindo a ferida e deixando-a sangrar, apaziguando a própria dor. Na época, tentou publicá-lo em jornais, mas foi barrada por uma regra editorial que proibia matérias sobre o tema.

“Falavam que provocava mais suicídio. Mas, eu achava absurdo. Tem muita gente que tem preconceito contra doença mental. É terrível você admitir que um filho teu, ou um parente teu, que tem uma doença mental. Há resistência das pessoas de procurarem tratamento para os filhos, parentes. Uma ignorância muito grande. E eu queria alertar as pessoas. É doença. Tem que ser tratada. Você pode ajudar. E eu queria ajudar com esse livro. Ajudar, como eu quero até agora. Eu quero ajudar pessoas que tenham parentes com problemas mentais. Pra gente salvar. Pra evitar o suicídio. O que eu quero é evitar que as pessoas se matem. Várias doenças que podem levar ao suicídio. Então eu escrevi pensando isso, em barrar o processo. Esse é o meu objetivo”, declara a autora, que é licenciada em Ciências Políticas e Sociais pela PUC-Campinas e mestre em Filosofia da Educação pela Unicamp.

O filho de Ana tirou a própria vida após resistência ao tratamento. Decidiu que não tomaria mais remédios. Quando a notícia definitiva chegou, ela estava na igreja. Diferente de muitas mães que se revoltam contra o divino, encontrou na espiritualidade e na crença na vida eterna o esteio para não desmoronar. E a dor se transformou em investigação. Enquanto a família se fechava, mergulhou na escrita para tentar entrar na cabeça do filho e compreender a doença invisível. 

O processo foi acompanhado por um fenômeno que ela descreve como milagroso: livros começaram a "cair" nas mãos dela, por meio de amigos. Em apenas dois meses, leu trinta obras. Além disso, buscou auxílio de especialistas e místicos. Cruzou as visões de psicanalistas renomados e de médicos com as trajetórias de figuras, como Santa Teresa de Jesus. Compreendeu que a doença mental é como um câncer invisível, que, por não apresentar sintomas físicos óbvios como o emagrecimento ou o definhamento visível, é ignorada ou negada. 

Ajuda especializada

O Ministério da Saúde orienta que é fundamental buscar o amparo de pessoas próximas, confiáveis, ao passar por momentos difíceis, sobretudo quando se está com pensamentos de autolesão ou desesperança. Reforça que pedir auxílio especializado, de psicólogos e médicos, é um passo corajoso e necessário para atravessar determinadas crises. 

Para um suporte imediato e sigiloso, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito 24 horas por dia com voluntários preparados O atendimento é pelo telefone 188, ou via chat, e-mail e VoIP. Na rede pública de saúde, o acolhimento pode ser encontrado nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e nas Unidades Básicas de Saúde. Em situações de emergência ou risco imediato, deve-se procurar as UPAs 24h, prontos-socorros, hospitais ou acionar o Samu pelo número 192.

Um levantamento digital feito este ano pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), abrangendo todas as unidades federativas brasileiras, aponta 25% dos participantes admitiram ter cogitado o suicídio em um intervalo de seis meses. O desejo de isolamento social ou de "sumir" foi ainda mais comum, afetando mais da metade dos entrevistados.

O estudo serviu como base para as ações do Setembro Amarelo - mês de conscientização contra o suicídio. O ponto positivo, ainda de acordo com o levantamento, é que 50% dos ouvidos já passaram por consultas com psicólogos ou psiquiatras e sabem exatamente onde encontrar suporte.