Por: Moara Semeghini - Campinas

HC da Unicamp está sem receber repasse de verba do estado, pelo SUS Paulista, há 12 meses

Governo: SUS Paulista destinou R$ 8 bi a 800 unidades | Foto: Caius Lucilius/HC Unicamp

O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp está há doze meses sem receber os repasses do SUS Paulista, acumulando um déficit que já passa de R$ 100 milhões e compromete o funcionamento da unidade. Segundo a administração, o governo estadual não enviou nenhum pagamento do programa em 2025, apesar de o hospital seguir realizando os procedimentos contemplados.

O HC deveria receber mensalmente entre R$ 9 milhões e R$ 10 milhões referentes ao programa estadual, mas nenhum repasse foi efetuado de janeiro a dezembro, o que representa uma falta de recursos entre R$ 108 milhões e R$ 120 milhões ao longo do ano. A direção informa que a situação já foi apresentada ao governo paulista e que as tratativas seguem em andamento para tentar regularizar os pagamentos.

Procuradas pela reportagem, a superintendência e a reitoria afirmaram que “não irão se manifestar publicamente até que haja uma decisão do Estado”.

Impacto nos atendimentos

A ausência dos repasses pressiona o orçamento do hospital e já reflete na rotina assistencial. De acordo com representantes do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, há redução de cirurgias eletivas e de atendimentos ambulatoriais, especialmente em áreas de maior demanda. “A população é a principal prejudicada”, afirma José Pio, membro da diretoria.

Ele diz que o atraso já chega a 11 meses — e que as justificativas apresentadas pelo governo envolvem “entraves burocráticos” e prioridade a entidades filantrópicas. A direção sindical reforça que os repasses são fundamentais para o funcionamento do HC, que atende pacientes de toda a Região Metropolitana de Campinas.

Moção de apoio

Em nota aprovada em 19 de novembro, o Sindicato manifestou apoio à superintendente do HC, professora Elaine Cristina de Ataíde, que havia cobrado o repasse em reportagem da EPTV. A entidade criticou a reação da Reitoria e considerou que a superintendente “deveria ter sido apoiada, e não repreendida”, por defender a instituição diante da falta de recursos.

O que diz o Governo do Estado

A Secretaria de Estado da Saúde informou que o SUS Paulista — programa criado pela atual gestão — tem como finalidade complementar o pagamento de procedimentos realizados principalmente por Santas Casas e hospitais filantrópicos, que podem receber até cinco vezes mais pelos atendimentos.
Segundo a Pasta, entre 2024 e 2025, o programa destinou aproximadamente R$ 8 bilhões a cerca de 800 instituições parceiras do SUS.

Em agosto, o governador Tarcísio de Freitas ampliou o alcance da iniciativa para hospitais municipais. Mais de 100 unidades em aproximadamente 70 cidades devem ser beneficiadas.

Apesar de a Unicamp não ter natureza jurídica filantrópica, o governo afirma que a universidade recebe apoio financeiro “dentro dos limites legais”. A secretaria diz que, apenas em 2025, já foram repassados cerca de R$ 54 milhões à instituição para complementar a produção hospitalar.

Desde 2024, o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Campinas recebeu R$ 588,8 milhões destinados a 104 instituições conveniadas ao SUS, afirma o governo.

Situação financeira do HC

Além dos valores estaduais, o HC também depende do orçamento da própria universidade. A Unicamp repassa cerca de R$ 1,2 milhão por mês ao hospital e, desde maio, tem destinado aportes extraordinários para evitar paralisações. No ano passado, os repasses do SUS Paulista ocorreram após decreto do governador Tarcísio de Freitas que liberou recursos atrasados — o que não se repetiu em 2025, segundo o hospital.

Negociação em andamento

A direção do HC e a Reitoria seguem em diálogo com o Governo do Estado para tentar resolver a falta de repasses. Até que haja uma definição, o hospital afirma que não voltará a se pronunciar sobre o tema. 

Autarquização

A autarquização do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp é uma proposta para transformar o complexo de saúde em uma autarquia estadual, visando aliviar o orçamento da universidade e permitir a expansão acadêmica, com o Estado assumindo gradualmente os custos, mas gera grande debate e resistência de servidores e estudantes, que temem sucateamento, perda de autonomia e desmonte do SUS, com a votação no Conselho Universitário (Consu) sendo adiada e aguardada para dezembro de 2025, mas com manifestações e preocupações sobre o futuro do hospital.