Na área central pulsante de Campinas, um pedaço de Mata Atlântica resiste ao tempo, guardando histórias, animais, risos de infância e o afeto de gerações que cresceram sob a sombra dos jequitibás centenários. Para quem nasceu ou cresceu no município, o Bosque dos Jequitibás não é apenas um parque. É quase um parente querido: daqueles que conhecemos desde sempre, que acolhem, protegem e acompanham a vida da gente. Ele está lá antes de nós e, de alguma forma, dentro de nós.
Entre as árvores altas que filtram a luz da manhã, ainda ecoam passos de crianças que hoje já são avós, mas que um dia seguraram firmemente as mãos dos pais nas primeiras visitas ao minizoológico. O cheiro de terra molhada, o som das araras, o teatro com suas peças infantis, as escolas chegando em fila… o tempo passa, mas os rituais permanecem.
Onde a cidade aprendeu a respirar
O Bosque dos Jequitibás é uma das mais antigas áreas verdes de lazer de Campinas. Foi criado em 1884, por Francisco Bueno de Miranda, e adquirido pelo município em 1915. A partir daí, integrou-se como parte do cotidiano campineiro. Tombado pelo Estado em 1970, resistiu ao crescimento urbano, protegido pela memória e pela insistência de quem nunca aceitou perdê-lo. Com o tempo, foi ganhando corpo, amadurecendo, acolhendo o Museu de História Natural, o Aquário, o Teatro Carlos Maia, a Casa do Caboclo e o minizoológico que marcou a infância de tantos.
Animais que marcaram época
Quem viveu os anos 80 e 90 lembra-se bem do leão que rugia ao longe, a onça-pintada que atraía olhares admirados, as araras coloridas pousadas nas manhãs claras… Havia atrativos para encantar qualquer um, como o hipopótamo Dinho, que completou 19 anos em setembro de 2025, a pantera, a anta, o tamanduá, os macacos, cada um deles parte da imaginação infantil e das conversas que duravam até muito depois da visita ao bosque.
Hoje, a composição do minizoológico é outra, adaptada para atender às políticas ambientais e ao bem-estar animal, mas ainda guarda espécies queridas, aves exuberantes e pequenos mamíferos que encantam a garotada. E, por entre as trilhas, cutias e pássaros nativos seguem circulando livremente, uma lembrança viva de que ainda existe floresta no coração da metrópole.
Pedaço de Mata Atlântica
Poucos campineiros sabem, mas o Bosque resguarda um fragmento importante de Mata Atlântica, com espécies nativas raras e árvores centenárias. Os jequitibás, que emprestam o nome ao parque, são os grandes guardiões dessa história. Eles viram gerações nascer e partir, mas permanecem ali, silenciosos, testemunhas do que Campinas já foi e ainda pode ser. Um dos jequitibás tem mais de 300 anos. Antes mesmo de Campinas existir, ele já estava ali e, hoje, é considerado um “guardião silencioso” da cidade.
Afeto que se transmite
Se você perguntar a qualquer campineiro, dificilmente haverá alguém que não tenha uma memória forte intrísecamente relacionada ao Bosque dos Jequitibás. A primeira visita com a escola, o piquenique improvisado, o teatro infantil aos domingos, a excitação e curiosidade ao chegar perto dos animais, o álbum de fotos em frente à “pontezinha de madeira”.
Sob a gestão do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), da Secretaria Municipal de Serviços Públicos, a área verde é um acervo de lembranças compartilhadas e, talvez, seja por isso que o local desperta sentimentos de cuidado e preservação quando alguma situação ameaça a sua integridade. Cada queda de árvore, cada fechamento temporário, cada notícia sobre reforma ou manutenção mobiliza a população. É um patrimônio que o campineiro toma para si a responsabilidade de cuidar, defender e preservar.
“O Bosque dos Jequitibás é um fragmento de Mata Atlântica importante do ponto de vista da diversidade de espécies, reunindo variedades botânicas. No espaço de 110 mil metros quadrados, a área é repleta de verde. É um “pulmão verde” na cidade. O espaço também é importante para abrigar a pequena fauna urbana, oferecendo refúgio e alimento”, afirma o secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella.
Ele ressalta ainda a atuação fundamental da parceria com a Polícia Ambiental. “São eles que trazem para o Bosque alguns animais que sofreram maus-tratos, foram vítimas de tráfico ou que estejam machucados, para que sejam tratados pela equipe veterinária do parque.”
Vivo e vibrante
Apesar dos desafios, o Bosque, segue vivo e vibrante. Nos fins de semana, recebe famílias para caminhadas, crianças para oficinas ambientais, encontros culturais, feiras de orquídeas, trilhas educativas e visitas ao Museu e ao Aquário. É um respiro de oxigênio puro para quem caminha pelo Centro e um abrigo emocional para quem carrega as lembranças de anos atrás.
O Bosque dos Jequitibás permanece como sempre: sendo muito mais do que apenas um parque bonito e interessante. Ele é o lugar onde as pessoas aprendem, desde criança, a olhar para a natureza com afeto, admiração e respeito.
Porque, no fim das contas, todo campineiro guarda um pedaço do Bosque dentro de si, assim como o Bosque também guarda um pedaço de cada campineiro em suas sombras antigas, suas árvores gigantes e suas memórias que nunca envelhecem.