Por: Redação

Unicamp desenvolve IA para diagnóstico de câncer de pele em pessoas negras

A professora Sandra Avila: combate ao viés racial na área dermatológica | Foto: Portal da Unicamp

Pesquisadores do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, liderados pela professora Sandra Ávila, estão desenvolvendo um modelo de Inteligência Artificial (IA) para combater o viés racial na dermatologia, focando na identificação de câncer de pele em pessoas negras. O objetivo é criar um algoritmo capaz de considerar a diversidade de tons de pele da população brasileira, uma vez que as lesões cancerígenas em peles negras e brancas, como o melanoma, apresentam padrões distintos.

A falta de reconhecimento dessas diferenças pode levar a diagnósticos incorretos, o que seria escalado ao ser repassado a um algoritmo não treinado adequadamente. Para sanar a baixa disponibilidade de imagens e informações sobre peles negras, a pesquisa conta com a parceria do Living Lab da organização social SAS Brasil.

O projeto visa criar um banco de dados dermatológicos inclusivo e representativo, etapa crucial para o aprendizado de máquina da IA, que utilizará redes neurais para classificar lesões cutâneas como benignas ou malignas. A coleta de dados e imagens ocorrerá nas unidades móveis e fixas de Telemedicina Avançada da SAS Brasil, que atendem regiões vulneráveis, aumentando a chance de um banco de dados representativo.

Segundo Gabriela Sá, Head de Pesquisa e Ensino do Living Lab, a expectativa é que as ferramentas diagnósticas fortaleçam a integração entre telessaúde, IA e atendimento presencial, facilitando a detecção precoce mesmo em áreas com poucos especialistas, o que pode reduzir o tempo de diagnóstico e melhorar o acesso a cuidados.

O câncer de pele é o tipo mais frequente no Brasil. A dermatologista Camila Rosa, consultada pela pesquisa, ressalta a lacuna na literatura médica e entre profissionais sobre as particularidades da pele negra, que demandam protocolos preventivos e terapêuticos específicos. O diagnóstico tardio, muitas vezes causado pela negligência em áreas do corpo mais propensas ao melanoma em pessoas negras (como pés, mãos e unhas), eleva o risco de mortalidade. O projeto já recebeu premiações, como o Google Award for Inclusion Research 2022.

A iniciativa da Unicamp e SAS Brasil funcionará como um projeto piloto que une teoria e prática, buscando que os dados se tornem referência para políticas de prevenção. A professora Ávila destaca que o projeto visa não só treinar máquinas, mas também conscientizar e treinar profissionais de saúde e a população.