A vereadora Mariana Conti (PSOL) usou as redes sociais para convocar seus apoiadores e aliados a assinar um abaixo-assinado em sua defesa, depois que o vereador Nelson Hossri (PSD) entrou com um pedido de instauração de Comissão Processante (CP) à Câmara de Campinas contra a parlamentar. Hosrri pede a apuração de uma suposta infração político-administrativa atribuída à vereadora.
“Além de espalhar mentiras e fake news sobre a global sumo de flotilha, os vereadores bolsonaristas de Campinas querem a cassação do meu mandato, porque eu participei dessa que foi a maior ação humanitária internacional de solidariedade ao povo da Palestina, que vive um genocídio. Então é vergonhoso, esse é um processo de perseguição política. Esses vereadores são os mesmos vereadores que apoiaram, que foram contra a vacina e apoiaram o genocídio no Brasil também durante a pandemia. Então nada não espanta que eles estejam apoiando o genocídio também na Palestina”, disse a vereadora.
De acordo com a denúncia apresentada, a vereadora teria se afastado do cargo para participar de uma “missão não oficial e sem relação com as atribuições do mandato”, o que, segundo o documento, representaria uma violação ao princípio da moralidade administrativa.
No pedido protocolado, o vereador Nelson Hossri sustenta que Mariana Conti incorreu em quebra de decoro parlamentar ao solicitar licença para integrar uma missão internacional, caracterizando, em sua avaliação, uso indevido da função pública. A votação que decidirá sobre o recebimento da denúncia foi adiada e deverá ocorrer na primeira sessão ordinária após o término da licença da parlamentar.
A Mesa Diretora da Câmara confirmou que a vereadora solicitou duas licenças não remuneradas para integrar a Global Sumud Flotilha, uma expedição humanitária composta por embarcações que transportavam alimentos e medicamentos à Faixa de Gaza. O movimento internacional busca denunciar e desafiar o bloqueio imposto por Israel ao território palestino.
A análise do pedido de abertura da Comissão Processante está marcada para o dia 29 de outubro, às 18h, na Câmara Municipal de Campinas.
“Ela já sabia que essas dificuldades (de conseguir chegar a Gaza sem que Israel impedisse) seriam encontradas. E ela encontrou exatamente isso e foi presa pelo governo de Israel. E depois ela foi deportada e presa para o Brasil. Ela tirou uma licença não remunerada de 40 e poucos dias, de dois meses, 60 dias. E ela, como vereadora de Campinas, abandonou a cidade”, disse o vereador Nelson Hosrri. “A função pública exige responsabilidade contínua. Licença não é salvo-conduto para condutas incompatíveis com a ética parlamentar”, completou o parlamentar.
Mariana Conti afirmou também que tem muito orgulho de ter participado da Global Sumud Fotilha e “nós vamos enfrentar esse processo de perseguição política machista, que é o que eu tenho enfrentado desde que eu fui eleita como vereadora, quando eu era a única mulher e tenho enfrentado todos esses processos de perseguição política e criminosa”, completou ela.
“Estou chamando um ato para acontecer no dia 29 em solidariedade ao meu mandato e também estamos com abaixo assinado para as pessoas manifestarem o seu apoio, porque eu sei que eu não estou sozinha, sei que tem muito apoio e sei que muita gente se orgulha da ação de solidariedade que eu fiz em prol da população vítima do genocídio em Gaza”, disse Mariana Conti.
Flotilha
Mariana Conti estava entre os 400 detidos por Israel que tentaram romper o bloqueio que impedia a entrada de comida e remédios em Gaza, ao lado da ativista climática sueca Greta Thunberg e do brasileiro Thiago Ávila, que coordenou a ação. A vereadora custeou por conta própria todos os custos com a missão.
A Marinha de Israel interceptou, entre a noite de 1º e a madrugada de 2 de outubro, as embarcações da flotilha humanitária Global Sumud, que levavam alimentos e medicamentos à Faixa de Gaza.
Os mais de 40 barcos foram atacados em águas internacionais, segundo os organizadores. O governo brasileiro condenou a ação militar de Israel, declararou a prisão dos ativistas como ilegal e em total desrespeito ao direito internacional, reafirmou o princípio da liberdade de navegação, e pediu o fim imediato das restrições impostas por Israel à ajuda humanitária.
Em setembro, uma comissão da ONU classificou as ações israelenses em Gaza como genocídio. A Corte Internacional de Justiça também determinou que Israel permita a entrada de auxílio no enclave, onde mais de 60 mil pessoas morreram desde 2023.