Boletim da População Negra, divulgado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) na última semana, evidencia um marco histórico: a população preta e parda consolidou, em 2024, sua predominância no mercado de trabalho formal da região. O levantamento, apresentado no Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, mostra que 71,9% dos trabalhadores com carteira assinada no Nordeste pertencem a esse grupo racial, percentual muito superior à média nacional, de 47,7%.
O estudo, que reúne dados do IBGE, TSE e outras bases oficiais, aponta ainda que o Nordeste concentra a maior população negra do País (13,0%) e a segunda maior proporção de pessoas pardas (59,6%). No recorte por estados, o Piauí lidera com 79,9% de trabalhadores pretos e pardos no mercado formal. Ceará, Maranhão e o próprio Piauí também se destacam pelos expressivos índices de participação parda.
Apesar da forte presença econômica, o boletim confirma uma realidade persistente: a desigualdade salarial. Em 2023, a renda média de trabalhadores negros caiu 0,9 ponto percentual no Nordeste, com quedas mais intensas em Alagoas e Bahia, ambas de 1,8 p.p. "Este boletim expõe desigualdades estruturais que afetam desproporcionalmente a população negra, desmistificando o mito da democracia racial", afirma Gabriela Nascimento, doutora em estatística da Sudene.
O relatório também acende um alerta sobre segurança pública. Enquanto o Brasil reduziu em 10,1% os homicídios de pessoas negras, o Nordeste seguiu na contramão, registrando aumento de 0,9%.
Em entrevista ao Correio da Manhã, a Superintendência da Sudene enfatizou o papel estratégico da instituição: "Enfrentar as desigualdades raciais é condição essencial para promover um desenvolvimento inclusivo. O boletim amplia a capacidade de estados e municípios planejarem políticas públicas baseadas em evidências."
A autarquia destacou que o boletim fortalece o monitoramento do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE) e orienta ações como o programa Nordeste da Paz, voltado à redução da violência, sobretudo entre jovens negros. O plano prioriza políticas integradas de segurança cidadã, inclusão social.