O Brasil assistiu a mais um capítulo trágico de sua história de violência contra os povos originários: no final de março, aldeias localizadas no território indígena de Barra Velha, em Prado, no sul da Bahia, foram palco de um ataque brutal conduzido não apenas por forças policiais, mas também por jagunços armados sob a coordenação direta de fazendeiros e grileiros, denunciam a União Nacional Indígena (UNI) e Confederação dos Povos Originários das Américas (Copoa).
"A cena protagonizada por policiais e pistoleiros evidencia uma realidade sombria: o aparato de segurança pública, que deveria proteger os cidadãos e garantir a lei, foi transformado em um instrumento de opressão contra os povos indígenas", avaliam as entidades.
Relatos de sobreviventes e vídeos gravados pela comunidade Pataxó mostram um ataque coordenado e violento. Policiais civis, militares e da Coordenação de Recursos Especiais (Core) invadiram as aldeias com mais de 20 viaturas e apoio de helicópteros, disparando balas de borracha e aterrorizando os moradores.
O saldo foi de vários feridos e o desaparecimento de três crianças, que posteriormente foram encontradas na mata, apavoradas e desamparadas. As imagens também revelam uma cena estarrecedora: um pistoleiro mascarado dando ordens a policiais, que, em vez de reprimir a invasão ilegal do território indígena, aliaram-se aos grileiros e latifundiários da região.
De acordo com as entidades, reuniões entre fazendeiros e autoridades municipais têm gerado preocupação e revolta entre os indígenas e entidades de direitos humanos. No dia anterior ao ataque, em 19 de março, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, participou de um encontro em Teixeira de Freitas com latifundiários da região. Poucas horas depois, a força policial foi mobilizada para executar uma ação violenta contra a comunidade indígena.
O assassinato do jovem Pataxó Vitor Braz, ocorrido na mesma região no dia 11 de março - segundo as entidades - é mais um exemplo da escalada da violência contra os indígenas. "Enquanto isso, as terras da comunidade aguardam a regularização fundiária pelo Ministério da Justiça, processo fundamental para garantir a segurança e autonomia dos povos Pataxó e Tupinambá. No entanto, a demora na demarcação tem servido como incentivo para que grileiros e fazendeiros intensifiquem suas invasões e ataques", avaliam as entidades.