O Tribunal de Contas da União (TCU) abre ao público a exposição “Línguas africanas que fazem o Brasil”, dedicada a mostrar como idiomas de matrizes africanas influenciaram a formação do português e da cultura no país. A mostra, com curadoria do músico e filósofo Tiganá Santana, integra as ações do Mês da Consciência Negra e estará aberta até 18 de janeiro de 2026, com visitação gratuita todos os dias, das 9h às 18h, no Centro Cultural TCU, em Brasília.
Realizada em parceria com o Museu da Língua Portuguesa, a exposição reúne obras, objetos e projeções que evidenciam a presença de idiomas como quimbundo, quicongo, umbundo, iorubá e fon na construção da língua falada no Brasil. O projeto tem patrocínio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e apoio do Sindilegis.
Instalada na Galeria Marcantonio Vilaça, a mostra propõe uma imersão no processo de formação linguística do país e orienta o visitante ao reconhecimento da contribuição africana para a história brasileira. Segundo o TCU, a iniciativa visa contextualizar o impacto desses idiomas no vocabulário, na pronúncia e na estruturação de pensamentos presentes no português brasileiro.
Fofoca ou moleque
O conteúdo destaca que palavras amplamente usadas no cotidiano, como “fofoca”, “caçula”, “moleque” e “marimbondo”, têm origem africana, embora muitas vezes não sejam associadas ao continente. Outras expressões, como “axé” e “acarajé”, já são reconhecidas como provenientes de línguas africanas. A exposição reúne esses exemplos para indicar que o contato linguístico estabelecido ao longo dos séculos moldou maneiras de falar, agir e interpretar o mundo no território brasileiro.
Além da abordagem linguística, a mostra apresenta referências à presença africana em manifestações culturais brasileiras, como música, arquitetura e festas populares. A exposição reúne obras de artistas como Aline Motta, Rebeca Carapiá, Antonio Obá, Dalton Paula, Goya Lopes e Leni Vasconcellos. Entre instalações, fotografias, esculturas, objetos, vídeos e telas, o conjunto organiza uma cartografia visual das palavras e do legado ancestral que compõe o tecido social do país.
O Centro Cultural TCU afirma que a exibição integra seu Programa Educativo, voltado à promoção de ações de mediação cultural, oficinas, formações e conteúdos acessíveis. O objetivo é ampliar a formação de públicos diversos, com atenção especial a estudantes e comunidades do Distrito Federal. As visitas mediadas podem ser agendadas e buscam aproximar o público do processo de construção histórica que resultou nas dinâmicas atuais da língua portuguesa no Brasil.
De acordo com os organizadores, a exposição reforça o papel da linguagem como elemento de memória coletiva. O conjunto de obras e materiais selecionados apresenta diferentes formas de registro e interpretação da presença africana, evidenciando como idiomas e práticas culturais foram incorporados ao cotidiano brasileiro, muitas vezes sem o devido reconhecimento de suas origens.
Força e riqueza
A artista plástica Leni Vasconcelos complementa sobre a influência africana nas expressões diversas do Brasil. “A África me mostrou a força e riqueza dos saberes, formas sofisticadas de representação dos pensares dos seus povos. Uma trajetória inesquecível que resultou em obras capturadas numa troca intensa de vivências, recebendo, com generosidade, a exuberância das suas maneiras de se expressar. Impressionada pela vastidão das expressões fortes, nas formas, nas cores vivas, nos sorrisos que muitas vezes contrastam com a realidade da sofrida história do continente. Um verdadeiro mergulho na riqueza da africanidade em nós”.
A proposta curatorial estrutura o percurso da mostra de modo a relacionar palavra, forma e história. Os conteúdos apresentados buscam demonstrar como elementos linguísticos vieram acompanhados de símbolos, práticas religiosas, modos de organização social e expressões artísticas trazidas por povos de diversas regiões do continente africano. Esse conjunto, segundo o material da exposição, configura parte fundamental da formação cultural do Brasil.
A mostra também destaca que a incorporação de elementos africanos ao português brasileiro ocorreu de forma contínua e diversificada. A presença desses idiomas influenciou não apenas o vocabulário, mas também ritmos de fala e modos de expressão característicos de regiões do país. A narrativa expositiva reúne trechos, registros e materiais visuais que permitem ao visitante perceber relações entre língua, território e identidade.
O projeto reforça ainda o papel das instituições culturais na preservação e na divulgação de acervos relacionados à história linguística do país. A participação do Museu da Língua Portuguesa indica a ampliação de iniciativas voltadas ao estudo de matrizes formadoras do português brasileiro.
Com a exibição, o TCU busca aproximar o público de discussões sobre cidadania, memória institucional e transparência. A instituição afirma que iniciativas culturais desse tipo contribuem para ampliar o acesso a informações sobre processos históricos que influenciaram a formação da sociedade brasileira.
A exposição “Línguas africanas que fazem o Brasil” permanece aberta à visitação até 18 de janeiro de 2026. O Centro Cultural TCU informa que grupos interessados em visitas mediadas podem realizar agendamentos prévios, com prioridade para instituições de ensino e organizações comunitárias. O acesso é gratuito.