Por: Mayariane Castro

Fora do eixo: cultura em Planaltina

Complexo reúne a atividade cultural em Planaltina | Foto: Secretaria de Cultura do DF

Para além do Plano Piloto, o espaço de Brasília concebido por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, a vida acontece de forma plena. E cada vez mais crescem nas demais regiões iniciativas de promoção da arte e da cultura. Série que se inaugura nesta sexta-feira (27) mostrará, uma vez por semana o que vem acontecendo no Distrito Federal “fora do eixo”.

O Complexo Cultural de Planaltina (CCP), administrado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, é um exemplo. Mantém programação voltada à produção artística local, formação de públicos e oferta de atividades educativas. Inaugurado em 4 de outubro de 2018, o equipamento integra a política cultural do DF e concentra ações de circulação, difusão e desenvolvimento de iniciativas culturais na região administrativa, sendo um dos poucos mecanismos culturais públicos do DF atualmente.

Localizado na área central da cidade, ao lado da Rodoviária, o complexo se consolidou como ponto de encontro entre artistas, produtores, estudantes e moradores. O espaço foi estruturado com a missão de ampliar o acesso à cultura, incentivar a participação comunitária e contribuir para a redução de situações de vulnerabilidade social. A formação continuada e a ocupação dos espaços por projetos diversos são consideradas eixos de funcionamento.

A estrutura do complexo reúne um cineteatro coberto com 340 lugares, palco em estilo italiano, camarins e sistemas de projeção e sonorização. Há ainda um teatro ao ar livre com arquibancada para cerca de 450 pessoas, utilizado para apresentações, ensaios e atividades comunitárias. A galeria para exposições possui 150 metros quadrados, sistema de iluminação em trilhos e seis expositores. A sala multiuso, com 79 metros quadrados, recebe oficinas, encontros e formações. O CCP foi projetado segundo parâmetros de acessibilidade. O acesso é feito em nível com a rua e sem barreiras físicas. Os teatros, auditórios e a galeria dispõem de rampas, corrimãos em duas alturas e piso tátil que indica início e fim de escadas, rampas, porta de elevador e obstáculos fixados em paredes. Elevadores adaptados completam o conjunto.

Grafite

As paredes exteriores do local são pintadas por grafite, obra de diferentes artistas locais da cidade. Desde monumentos da cidade de Planaltina até rostos diversos que contemplam a grande miscigenação do quadradinho do DF. Entre as atividades recentes do local, está a oficina de grafite promovida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), realizada no final do mês de outubro. Ministrada pela artista Yasmin Kali, ilustradora do livro “Em busca da Planaltina perdida”, a ação foi direcionada a estudantes da rede pública. A iniciativa integra um conjunto de práticas voltadas à educação patrimonial e ao reconhecimento da identidade histórica da região.

A atividade teve como objetivo oferecer experiência prática em grafite, relacionando técnicas da arte urbana ao território vivido pelos participantes. O trabalho propôs que os estudantes observassem as referências culturais do bairro, utilizassem o espaço público como suporte de reflexão e reconhecessem equipamentos culturais como pontos de integração comunitária. A oficina também buscou aproximar jovens do debate sobre preservação e uso social de espaços culturais.

Cinema

Outra atividade com participação do complexo neste ano foi o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Na edição comemorativa dos 60 anos, todas as sessões exibidas no Cine Brasília também foram levadas ao Complexo de Planaltina com ações de acessibilidade. As medidas incluem legendas descritivas para pessoas surdas, audiodescrição e tecnologia assistiva para pessoas cegas. As falas de palco, como apresentações e condução das sessões, contarão com interpretação em Libras. No caso de Planaltina, a adequação abrangeu as exibições realizadas no cineteatro do complexo.

As ações de acessibilidade fazem parte de um conjunto de diretrizes do festival e atenderam à demanda de inclusão de públicos diversos. Para a organização, a adaptação de todas as sessões amplia a participação de grupos que historicamente encontram barreiras para acessar atividades audiovisuais. No CCP, a parceria reforça o uso do espaço como ponto de exibição cinematográfica, articulando agenda com outras regiões do DF.

Desde a abertura, o complexo recebe projetos de dança, música, audiovisual, literatura e artes visuais. A ocupação dos espaços ocorre por meio de chamadas públicas, parcerias institucionais ou ações diretas da Secretaria de Cultura. Produtores culturais da cidade relatam que o equipamento ampliou a oferta de locais adequados para eventos, diminuindo a dependência de estruturas improvisadas e ampliando a circulação de projetos locais.

O CCP também funciona como espaço de formação. Oficinas, cursos e encontros promovidos por instituições públicas e organizações da sociedade civil são realizados na sala multiuso, permitindo articulação entre escolas, coletivos e agentes culturais. A presença de equipamentos diversos em um único complexo facilita a realização de atividades simultâneas e a construção de agendas integradas.

A missão institucional do CCP inclui a promoção de cidadania por meio de ações culturais. O espaço opera como ponto de apoio a iniciativas que dialogam com juventude, memória social e patrimônio. A relação com a comunidade se estabelece tanto pela oferta de programação quanto pelo uso cotidiano dos ambientes internos e externos por grupos organizados.

A Secretaria de Cultura destaca que o complexo foi criado para atender demandas históricas de Planaltina, uma das regiões administrativas mais antigas do DF. A proposta é fortalecer a produção cultural local e ampliar seu alcance, garantindo circulação de atividades no território e integração com políticas culturais do restante do Distrito Federal. Com cinco anos de funcionamento, o CCP segue recebendo programações variadas e mantendo sua função de equipamento público de cultura, articulando formação, difusão e acesso da população de Planaltina às atividades culturais.