Por: Mayariane Castro

A animada voz do Cerrado

Questões da infância abordadas na integração com a natureza | Foto: Divulgação

A animação O Mundo de Lírio, produção de Brasília, convida crianças e famílias a redescobrirem as árvores, com foco especial nas espécies do Cerrado. A estreia nacional está marcada para 2026, porém a pré-exibição de alguns episódios da primeira temporada integrou o cenário de Brasília junto a outras alternativas que valorizam o Cerrado, com plantio de mudas e uma oficina de desenho conduzida por Renato Moll, um dos criadores da série.

Produzida em regime de coprodução entre Brasil e Chile pelos estúdios Akwa Creative Lab e GVG Producciones, a série marca o primeiro trabalho de direção da produtora Amanda Fernandes. O projeto conta com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, da Lei de Incentivo à Cultura, da Neoenergia Brasília, do Instituto Neoenergia e da Secretaria de Estado de Economia Criativa do Distrito Federal.

A série está dividida em duas temporadas: a primeira com 26 episódios, a segunda com oito, cada episódio com duração de sete minutos. A narrativa acompanha Lírio, um menino negro de cinco anos, filho de mãe solo, que vive situações da infância e, em suas aventuras, se transforma em diferentes árvores para aprender a partir da natureza novas formas de existir. Em cada transformação, Lírio canta, dança e descobre que crescer é um ciclo, assim como a vida das árvores.

Àrvores nativas

Entre as espécies homenageadas estão árvores nativas do Cerrado: buriti, lobeira, jenipapo, cajuzinho do Cerrado, baru, paineira, jacarandá e faveleira. A série converte desafios cotidianos da infância em aprendizados ecológicos e emocionais. No episódio “Buriti, a hora do banho”, por exemplo, Lírio aprende com a palmeira que a água é fonte de alegria e renovação. Em “Lobeira, ah que sono”, ele vê que até as árvores descansam sob o luar. Em “Pai Jenipapo, me acalma”, a saudade se torna cor. Em “Paineira, as cores da natureza”, as flores ensinam o orgulho de ser diferente. Episódios como “Cajuzinho do Cerrado, beijo travoso” e “Baru, hum, que raízes molhadinhas” tratam do prazer de experimentar o novo e da importância de ouvir o próprio corpo. Em “Jacarandá, em boa companhia”, Lírio entende que liberdade pode coexistir com companhia, e em “Faveleira, parabéns para você”, o tempo e o florescer são celebrados.

Amanda Fernandes é diretora, showrunner (principal produtora executiva) da série. Esse trabalho de produção é compartilhado com Julian Rosenblatt e Cadu Zimmermann. A direção de arte é assinada pelos artistas Renato Moll e William Jungmann, enquanto a animação foi realizada pelo Alopra Studio. As vozes originais têm como intérpretes Débora Valente, Nambir, Aline Marcimiano e Kika de Moraes. O roteiro é de Jama Wapichana, Juliana Mendes e Renata Diniz. A música original é assinada por Débora Valente, Leandro Morais, Rafael Maklon e Sascha Kratzer.

Além da tela

O universo da série se estende além das telas: estão previstos dois álbuns musicais, um com canções de ninar para crianças de zero a quatro anos, outro com músicas da série para o público de quatro a sete anos, e o lançamento de três novos episódios no YouTube em breve. A obra foi exibida no festival Animage, em Pernambuco, o maior festival de animação do Brasil. Em 2026, a produção representará o Brasil no Monstra – Festival de Animação de Lisboa (março) – e no Festival de Animação de Abidjan, na Costa do Marfim (abril).

Amanda Fernandes atua há mais de uma década no audiovisual e assina a produção executiva de obras como Cidade Invisível, Invasão Espacial, Escola sem Sentido, Algoritmo, Manual da Pós-Verdade e Da Porta Pra Fora, exibidas e premiadas em diferentes plataformas. Durante a produção, segundo Amanda, o processo durou três anos (2023-2025) e envolveu roteiros bilíngues (português e espanhol), pesquisa de conceito de árvores, música e animação. A direção de arte trabalhou na caracterização das espécies de árvores, o que exigiu revisões múltiplas em cada etapa (roteiro, storyboard, montagem, animação, som, mixagem). Um dos desafios citados foi combinar uma estética comercial com a identidade artística da série, além de tomar decisões sobre trilha sonora e direção em sua primeira grande obra como diretora.

Entre os planos futuros, destaca-se o licenciamento da obra para televisão no ano seguinte, mais outros dois álbuns infantis de música, além de um programa educacional baseado no universo da série. Os produtores apontam que a série pode servir como recurso em escolas para trabalhar temas como biodiversidade, identidade e relaxamento infantil. O conteúdo será disponibilizado em plataformas de streaming como Spotify e aplicativos, e um kit será produzido para utilização em creches e escolas.