Por: Mayariane Castro

Arte e saúde mental

Ideia é partir da arte para discutir importância do cuidado psicossocial | Foto: Divulgação

Estão abertas até 16 de janeiro de 2026 as inscrições para a segunda edição da mostra “Desalinhos e Costuras: Arte e Loucura”. O projeto selecionará três obras de artistas, coletivos ou iniciativas culturais de qualquer parte do país para integrar a exposição, que será realizada de 14 de maio a 5 de julho do ano que vem, no Museu Nacional da República, em Brasília. Cada trabalho selecionado receberá um prêmio no valor de R$ 4 mil.

A mostra propõe o fortalecimento do diálogo entre arte e saúde mental por meio da valorização da produção artística vinculada a contextos de cuidado psicossocial. A curadoria da exposição será realizada por Tânia Rivera e a iniciativa é coordenada pela artista Yasmin Adorno em parceria com três coletivos do Distrito Federal: a Cia Atravessa a Porta, o Maluco Voador e o Bloco do Rivotrio.

De acordo com os organizadores, a proposta busca promover a inclusão sociocultural de pessoas em sofrimento psíquico, além de fomentar o debate em torno de políticas públicas de base comunitária e da luta antimanicomial. A mostra inclui, além da exposição das obras selecionadas, uma programação com rodas de conversa, performances, sessões de cineclube e palestras. A ação é voltada a artistas ou grupos cujos trabalhos estejam ligados direta ou indiretamente à temática da saúde mental, seja por meio de sua trajetória pessoal, atuação institucional ou experiências com coletivos e iniciativas que trabalham com arte em contextos de cuidado.

Renato Russo

A primeira edição da mostra ocorreu em 2023, no Espaço Cultural Renato Russo, em Brasília, com a participação de artistas, usuários da rede de saúde mental e ativistas. A programação contou com oficinas, performances e exposições voltadas à valorização da arte como instrumento de expressão, cuidado e inclusão. Com a nova edição, a iniciativa amplia seu alcance, abrindo a chamada para participantes de todo o Brasil.

As inscrições devem ser realizadas exclusivamente por meio do formulário disponível nos canais oficiais. O edital de convocação não estabelece restrição quanto à linguagem artística, podendo ser inscritas obras visuais, instalações, objetos, vídeos, performances, entre outras expressões. Os resultados da seleção serão divulgados em 15 de fevereiro de 2026.

A mostra se insere em um contexto de iniciativas que discutem novas abordagens para a saúde mental a partir da cultura, aproximando práticas artísticas das políticas públicas de cuidado e convivência. Segundo os organizadores, o projeto também pretende criar espaços de escuta e trocas de saberes entre diferentes regiões do país, fortalecendo uma rede de iniciativas que atuam na interface entre arte e cuidado psicossocial.

A curadoria, conduzida por Tânia Rivera, terá como foco destacar a diversidade de formas de expressão que emergem de contextos de sofrimento psíquico, com atenção às histórias de vida dos participantes e às poéticas desenvolvidas a partir desses percursos. Rivera tem experiência acadêmica e profissional em psicanálise e filosofia, com atuações na área de estética e saúde mental.

A equipe organizadora do evento destaca que a mostra “Desalinhos e Costuras — Arte e Loucura” não é voltada apenas à exposição artística, mas também ao fortalecimento de vínculos comunitários e ao enfrentamento de estigmas sociais. O objetivo é estimular um ambiente onde as experiências de sofrimento possam ser compreendidas de forma coletiva e socialmente implicada.

Os coletivos envolvidos na proposta atuam no DF há vários anos com práticas que envolvem arte e saúde mental. A Cia Atravessa a Porta desenvolve projetos de teatro e performance com pessoas em sofrimento psíquico. O Maluco Voador é um grupo que atua com oficinas artísticas em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Já o Bloco do Rivotrio é conhecido por promover o carnaval como espaço de convivência e expressão para usuários da rede de saúde mental.

Acesso

Ao promover a mostra em um espaço institucional como o Museu Nacional da República, os organizadores buscam dar visibilidade à produção artística fora dos circuitos tradicionais e ampliar o acesso do público a debates sobre saúde mental e cultura. A exposição pretende atrair não apenas visitantes, mas também estudantes, profissionais da saúde, pesquisadores e artistas interessados no tema.

O projeto insere-se em um movimento mais amplo que questiona os modelos tradicionais de tratamento psiquiátrico e propõe alternativas baseadas na convivência, na criação coletiva e no protagonismo dos próprios sujeitos em sofrimento. A arte é utilizada como ferramenta para ampliar repertórios simbólicos e fortalecer vínculos comunitários. A mostra de 2026 será realizada com apoio de editais de fomento e parcerias institucionais. Os organizadores informaram que a participação na exposição não exige deslocamento dos artistas para o DF, e que a equipe da mostra se responsabilizará pela montagem, transporte e cuidado com as obras selecionadas, conforme os critérios do edital.

A programação completa será divulgada após o encerramento das inscrições. A expectativa da organização é de que o evento reúna artistas de diferentes regiões do país, com propostas que dialoguem com a pluralidade de experiências em torno da saúde mental e da criação artística. A curadoria buscará compor uma exposição que represente essa diversidade de vozes, percursos e linguagens.