Por: Mayariane Castro

Como se dança o baião

Espetáculo fala do peso nordestino na formação | Foto: Marcelo Candido/Divulgação

A Transições Cia de Dança apresenta neste final de semana, no Sesc Gama, o espetáculo “Na pegada popular, no coração do Brasil”. A obra reúne 20 bailarinos e traz ao palco 11 coreografias inspiradas em manifestações da cultura popular nordestina. A apresentação tem como foco destacar a contribuição de trabalhadores migrantes na formação social e cultural do Distrito Federal, por meio da dança contemporânea com base em ritmos como frevo, coco, cavalo marinho, baião, xaxado e caboclinho.

Criado em Planaltina, onde a companhia tem sua sede, o espetáculo foi desenvolvido a partir de estudos da literatura de Mário de Andrade, autor de Macunaíma, e da pesquisa sobre manifestações tradicionais brasileiras.

A proposta é evidenciar o papel dos migrantes nordestinos no processo de construção da capital federal, desde as primeiras expedições missões exploratórias da Missão Cruls até o projeto urbanístico de Brasília. A direção artística é assinada por Lehandro Lira, artista com atuação reconhecida na região administrativa.

A montagem estreou originalmente em 2021 e estreia no Gama após a recepção positiva do público local. A nova apresentação conta com adaptações no roteiro e na encenação, resultado do processo contínuo de pesquisa e formação artística da companhia. A produção é viabilizada com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF).

Identidade

O espetáculo busca estabelecer um diálogo entre dança contemporânea e expressões populares, utilizando a linguagem corporal como ferramenta de narrativa histórica e valorização das raízes culturais do povo brasiliense. Ao incorporar ritmos e personagens simbólicos do imaginário nordestino, a companhia propõe uma reflexão sobre a diversidade que compõe a identidade do Distrito Federal.

A apresentação também se insere em um projeto de formação e descentralização cultural da Transições Cia de Dança, que atua em regiões periféricas com o objetivo de promover o acesso à arte e fortalecer a profissionalização de artistas locais. Além das apresentações, a companhia desenvolve oficinas e ações formativas que integram sua prática artística.

Desde sua criação, a Transições Cia de Dança tem como objetivo articular diferentes linguagens da dança e promover a inclusão por meio da arte. Sua trajetória está marcada por espetáculos que dialogam com temas ligados à história, à cultura e à identidade das populações do Distrito Federal, com ênfase na valorização das origens nordestinas. A escolha pelo Gama como palco para a reapresentação foi motivada pela resposta do público local durante a montagem anterior. De acordo com os organizadores, a intenção é fortalecer os laços com a comunidade e ampliar a circulação de obras culturais em áreas fora do eixo central de Brasília.

A companhia busca, por meio dessa produção, contribuir para o reconhecimento do papel das manifestações populares na construção da identidade nacional. A narrativa do espetáculo se constrói por meio de personagens representativos do imaginário nordestino e elementos da cultura oral, musical e corporal tradicional.

A proposta estética parte de um olhar contemporâneo sobre expressões populares, buscando respeitar suas origens e, ao mesmo tempo, inseri-las em novos contextos cênicos. O uso de figurinos, trilhas sonoras e movimentos baseados em danças tradicionais visa manter a conexão com a fonte original, sem perder a liberdade criativa da composição coreográfica.

Com atuação contínua em Planaltina, a Transições Cia de Dança já realizou outros projetos com foco em dança, educação e cultura. A companhia desenvolve atividades formativas e se apresenta em escolas, centros culturais e eventos públicos, priorizando o acesso gratuito e a formação de plateias nas periferias do DF.

“Na pegada popular, no coração do Brasil” integra uma linha de espetáculos que investigam a cultura popular brasileira como fonte de linguagem e expressão artística. Para o grupo, a valorização dessas manifestações está diretamente ligada à construção de uma identidade cultural diversa e plural, capaz de representar a história de formação do povo brasiliense.

A apresentação no Gama faz parte de uma agenda mais ampla de circulação da obra, que deve alcançar outras regiões administrativas nas próximas temporadas. A Transições Cia de Dança considera a itinerância como uma estratégia fundamental para democratizar o acesso à arte e fortalecer o vínculo entre artistas e comunidades. Além da exibição do espetáculo, o projeto prevê ações paralelas como rodas de conversa com os artistas, debates sobre cultura popular e atividades pedagógicas em escolas públicas da região. As iniciativas fazem parte do compromisso da companhia com a formação cultural e a sensibilização de novos públicos.