A jornalista Iara Lemos lança em Brasília e outras capitais seu segundo livro, depois de “A Cruz Haitiana”, impactante reportagem sobre a pedofilia praticada por padres católicos no Haiti.
Em sua segunda obra, Iara reúne relatos, reflexões e vivências de mulheres sobre diferentes formas de violência. A obra, publicada pela editora Mizuno, faz parte da agenda literária da autora neste semestre e será lançada em cinco capitais brasileiras: Porto Alegre, São Paulo, Brasília, Recife e Rio de Janeiro.
“O Silêncio das Gaiolas” é descrito pela autora como um ensaio feminista com base em experiências pessoais e coletivas. Segundo Iara, a ideia do livro surgiu a partir da percepção de que muitas mulheres vivem situações de violência simbólica, psicológica ou física sem necessariamente reconhecer esses episódios como abusivos. A autora aponta que essas vivências são frequentemente naturalizadas dentro de contextos familiares, sociais ou religiosos.
A metáfora das “gaiolas” é utilizada no título para representar os limites impostos às mulheres em diversos aspectos da vida cotidiana. A jornalista relata que ela própria esteve em situações semelhantes e que observou o mesmo padrão em sua mãe, amigas e entrevistadas ao longo da carreira. A proposta da obra é dar visibilidade a essas situações e discutir os mecanismos sociais que perpetuam o silêncio em torno da violência contra mulheres.
Superação
O livro também aborda o papel das redes de apoio femininas na superação de traumas. De acordo com a autora, reconhecer a própria história como parte de uma estrutura social mais ampla foi fundamental para a construção da narrativa. Iara considera o livro uma forma de libertação pessoal e coletiva, e destaca que a escrita foi um instrumento para dar voz a experiências que, muitas vezes, permanecem invisíveis.
A jornalista afirma que pretende alcançar tanto leitores quanto leitoras com a publicação. O objetivo é provocar reflexões sobre a permanência do machismo e da cultura patriarcal na sociedade atual. Para ela, é necessário compreender que a violência de gênero não está restrita ao passado e que ainda há um longo percurso a ser trilhado para transformações estruturais.
Silêncio
A mensagem principal do livro é que o silêncio, ao ser imposto ou escolhido, pode contribuir para a manutenção de situações de abuso. A autora chama atenção para a importância da escuta ativa e da observação das pessoas ao redor. Segundo ela, muitas mulheres sofrem caladas, e a omissão diante dessas situações pode fazer com que a violência se reproduza.
O processo de escrita da obra teve início durante um período pessoal delicado para a autora. Foi nesse contexto que ela percebeu a urgência de dar forma à narrativa. Mesmo com formação acadêmica e experiência profissional voltada à defesa dos direitos das mulheres, Iara relata ter encontrado dificuldades para nomear certas violências. Essa constatação impulsionou a decisão de transformar suas vivências e observações em material literário.
A jornalista destaca que a responsabilidade ao lidar com histórias reais foi um fator decisivo na elaboração do texto. Mesmo com a mudança de nomes e a proteção de identidades, ela reforça que houve um cuidado especial com os relatos apresentados. Para a autora, escrever sobre experiências marcadas por dor e violência exige atenção ética e empatia com os sujeitos envolvidos.
Além de “O Silêncio das Gaiolas”, Iara Lemos já publicou “A Cruz Haitiana”, pela editora InFinita, que encerra sua turnê internacional neste ano, com eventos programados em Paris e Roma. Ela também é coautora dos livros “Crimes contra Mulheres” e “Crimes contra Crianças e Adolescentes”, ambos lançados pela editora Mizuno.
A agenda de lançamentos do novo livro prevê eventos em diferentes regiões do país. A primeira sessão está marcada para o dia 26 de setembro na Livraria Leitura, em Porto Alegre. Em seguida, a autora participa de um evento na Livraria Drumond, em São Paulo, no dia 17 de outubro. Brasília recebe o lançamento no dia 29 de outubro, também na Livraria Leitura. Em novembro, Iara estará na Fliporto, em Recife, entre os dias 13 e 16. A turnê se encerra no Rio de Janeiro, com evento na Livraria Travessa, em 4 de dezembro.
Com formação em Jornalismo e especializações nas áreas de Inteligência Artificial e História Política, Iara Lemos atualmente finaliza o mestrado em Estudos sobre Mulheres, Gênero e Cidadania pela Universidade de Lisboa. Ao longo de sua trajetória, atuou como jornalista no Brasil e em instituições internacionais, incluindo dois anos como única representante brasileira no Colegiado de Inteligência Artificial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ocupando vaga indicada pelo governo dos Estados Unidos. No ano anterior, foi delegada de Controle Social durante a 77ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em Genebra. É vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo e do Prêmio Nacional de Direitos Humanos, ambos reconhecimentos ligados à sua atuação nas áreas de direitos sociais e cobertura jornalística.
Suzana Robles
A autora também anunciou o desenvolvimento de uma nova obra. Intitulada “A Enfermeira do Che”, o projeto literário será focado na história de Suzana Robles, mulher que cuidou do corpo de Che Guevara após sua morte, na Bolívia. A proposta da publicação é mesclar jornalismo e história, com base em entrevistas e pesquisas de campo. Iara planeja retornar à Bolívia em 2026 para concluir o material e lançar o livro posteriormente.
A escolha do tema se conecta com o interesse da autora por narrativas históricas que envolvem mulheres em papéis até então pouco documentados. A nova obra deverá seguir a mesma linha de investigação jornalística aplicada em seus trabalhos anteriores, combinando entrevistas, pesquisa documental e análise crítica.
Com a publicação de “O Silêncio das Gaiolas”, Iara Lemos amplia sua atuação para o campo literário, mantendo o compromisso com temas ligados à cidadania, direitos humanos e igualdade de gênero. A autora segue combinando vivência profissional e pesquisa acadêmica em projetos que envolvem diferentes formatos de narrativa, do jornalismo ao ensaio. Mais informações sobre o livro e os eventos de lançamento podem ser obtidas nos canais oficiais da editora Mizuno e nas redes sociais da autora.