Por: Mayariane Castro

Em cena, Renata Sorrah

Peça com Renata Sorrah abre o festival internacional de teatro | Foto: Nana Moraes

Com 30 anos de trajetória, o Cena Contemporânea, o Festival Internacional de Teatro de Brasília, realiza mais uma edição entre os dias 26 de agosto e 7 de setembro de 2025. Com patrocínio da Petrobras e apoio do Ministério da Cultura, o festival vai ocupar diferentes espaços culturais da capital federal com uma programação que inclui 23 espetáculos de teatro e dança, além de seminários, oficinas, shows, encontros, residência artística e leitura dramática.

A abertura do evento contará com duas produções. A primeira é “Ao Vivo (dentro da cabeça de alguém)”, protagonizada por Renata Sorrah e dirigida por Márcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro, em cartaz na Sala Martins Penna, no Teatro Nacional Cláudio Santoro. A segunda, a peça argentina “Seré”, será encenada no Teatro Galpão Hugo Rodas, no Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul.

O festival também contará com a estreia de produções internacionais no Brasil, como “Medida por medida (la culpa es tuya)”, da Argentina, e “Verdar”, do Chile. Entre os destaques nacionais está “Afinação 2: Falso Solo”, de Georgette Fadel. A programação inclui ainda apresentações musicais, como o show do pianista e compositor Amaro Freitas, vencedor de diversos prêmios, e da Orquestra Alada Trovão da Mata.

A Cena Contemporânea começa antes mesmo da abertura oficial. Nos dias 23 e 24 de agosto, será realizado o Seminário História, com coordenação do diretor Márcio Abreu. A atividade será aberta ao público e ocorrerá na Caixa Cultural, propondo debates sobre as conexões entre experiências pessoais e memória coletiva.

Crítica social

Os espetáculos desta edição abordam temas contemporâneos ligados à história recente da América do Sul, à identidade cultural e à crítica social. A montagem brasileira “Ao Vivo (dentro da cabeça de alguém)” convida o público a refletir sobre questões como preconceito racial, desigualdade social e disputas políticas a partir de memórias e projeções de futuro.

Gregório Duvivier participa com o monólogo “O Céu da Língua”, baseado em texto de Caetano W. Galindo. O espetáculo discute a formação do Brasil a partir do idioma português. A companhia Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, traz “Ubu: o que é bom tem que continuar!”, releitura de “Ubu Rei”, de Alfred Jarry.

Peças como “Seré”, “Verdar” e “A Bailarina Fantasma” trazem recortes históricos e sociais da América Latina. “Seré”, encenada pelo ator Lautaro Delgado Tymruk, revisita a ditadura argentina por meio do depoimento de um preso político. “Verdar”, escrita por Paula Aros Gho e interpretada por Mariana Loyola, aborda questões de inadequação social e suicídio. Já “A Bailarina Fantasma”, com Verônica Santos, discute o apagamento de bailarinas negras no ballet clássico, a partir da obra de Edgar Degas.

Voo Livre

Além dos espetáculos, o Cena Contemporânea oferece uma residência artística como parte da plataforma Voo Livre. A atividade, realizada em parceria com a companhia brasileira de teatro, terá duração de 11 dias, somando 80 horas de trabalho. Cerca de 30 artistas do Distrito Federal participarão, sob coordenação de Márcio Abreu. O resultado do processo será apresentado ao público ao final da residência.

A programação musical inclui o show de Amaro Freitas, no dia 31 de agosto, na Sala Martins Penna, no Teatro Nacional. O pianista apresentará o álbum “Y’Y”, com influências da sonoridade da floresta e do imaginário amazônico.

Outro destaque é a apresentação da Orquestra Alada Trovão da Mata, no dia 4 de setembro, no Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul. Com mais de 70 integrantes, entre batuqueiros e figureiros, o grupo realiza cortejos em celebração à figura do Calango Voador, símbolo da cultura popular do Cerrado.

As atividades formativas integram cinco formatos: Encontros do Cena, Contracenas, Oficinas, Seminário e Residência, e Leitura Dramática. Todas, exceto oficinas e residência artística, são abertas ao público. A coordenação geral é da diretora Kenia Dias, da crítica teatral Julia Guimarães e do jornalista Valmir Santos.

Nos Encontros do Cena, o público poderá acompanhar debates sobre temas como violência nas periferias, processos de formação artística e persistência nas obras de Shakespeare. No formato Contracenas, uma personalidade convidada compartilha sua visão sobre o espetáculo assistido, em conversas de até 30 minutos com o público.

O Seminário História e a Residência Artística Petrobras fazem parte da plataforma Voo Livre. Enquanto o seminário é aberto ao público, a residência é restrita a artistas previamente selecionados. As oficinas, voltadas a profissionais e estudantes de teatro e dança, exigem inscrição antecipada por meio de formulário.

A leitura dramática será realizada pela atriz Cristiane Sobral, durante o lançamento do livro “Pistas (Pistes)”, da Coleção Novas Dramaturgias. A coleção é organizada por Márcia Dias e integra o Núcleo dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil.

O Cena Contemporânea é dirigido por Guilherme Reis. A realização é do Ministério da Cultura, com recursos da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) e apoio cultural da Caixa. O festival estará presente em diversos locais da cidade, como o Teatro Nacional, Espaço Cultural Renato Russo, Caixa Cultural, Casa dos Quatro, Espaço Cultural Venâncio e outros espaços urbanos de Brasília.

Com mais de 30 atrações em 13 dias, o Cena Contemporânea 2025 reforça seu papel como uma das principais plataformas de difusão de teatro e dança na América Latina, promovendo intercâmbio artístico entre países da região e articulando ações voltadas à formação e à reflexão crítica.