A exposição fotográfica “Sons da Terra: Começo, Meio e Começo” será inaugurada no dia 5 de agosto no Museu da República, em Brasília. A mostra integra a programação do Festival Mês da Fotografia 2025 (FMF) e segue em cartaz até 7 de setembro. Com curadoria de Luazi Luango, a exposição reúne 50 imagens do fotodocumentarista Ògan Assogbá Luiz Alves e propõe um olhar documental sobre as religiões de matriz africana, o cotidiano dos terreiros e suas conexões com a cultura popular, especialmente o samba.
A exposição faz parte de uma edição especial do FMF, que neste ano tem como tema “O que Vemos Quando Escutamos”. A proposta geral do festival envolve quatro exposições voltadas para inclusão, ancestralidade e criação poética. “Sons da Terra: Começo, Meio e Começo” também integra o Festival Tardezinha do Samba, idealizado pelo músico Marcelo Café, com foco na relação entre as expressões religiosas e musicais de origem africana.
Fotografia social
Luiz Alves, conhecido no candomblé como Ògan Assogbá Azawany Fareji — ou Cuidador da Terra — tem 66 anos e vive em Resende (RJ). Iniciado há 34 anos no candomblé, o fotógrafo tem mais de quatro décadas de atuação na fotografia social. Começou sua carreira no Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda em 1984, atuou como repórter fotográfico no Congresso Nacional e na CPI do Sistema Carcerário. Seu primeiro prêmio nacional de fotografia foi conquistado em 1983, no Concurso Nacional dos Economiários do Paraná.
Luiz Alves iniciou sua trajetória na fotografia social nos anos 1980. Premiado nacionalmente, atuou em coberturas políticas, movimentos sociais e manifestações religiosas. Sua atuação como fotógrafo de religiões de matriz africana começou antes de sua iniciação no candomblé, sendo posteriormente reconhecida como missão espiritual.
Ainda antes de sua iniciação religiosa, Alves já fotografava terreiros de candomblé de forma restrita. Segundo o próprio fotógrafo, foi durante o processo de iniciação, no espaço conhecido como roncó, que recebeu autorização espiritual para retratar os espaços de axé com liberdade. A orientação partiu de sua avó de santo, Doté Zezinho da Boa Viagem. De acordo com Alves, naquele momento entendeu que sua missão seria utilizar a fotografia como ferramenta de enfrentamento ao racismo religioso.
A exposição traz registros do cotidiano, rituais e celebrações de terreiros em Brasília, com destaque para a série “Mo Dudú”, que significa “sabedoria negra” em iorubá. A proposta é oferecer um acervo que contribua para a preservação da memória das tradições afro-brasileiras, além de funcionar como fonte de consulta para pesquisadores e estudiosos.
Para o babalorixá Pai Ricardo de Odé, que acompanha o trabalho do fotógrafo, a produção de Luiz Alves cumpre papel importante ao documentar o universo simbólico e ritual das comunidades de terreiro. Segundo ele, o material construído por Alves contribui para a formação de um arquivo que poderá ser utilizado por futuras gerações.
A curadoria da mostra está a cargo de Luazi Luango, pesquisador, gestor da Kitanda Cultura de Terreiro e líder de candomblé Angola Kongo. O trabalho curatorial baseia-se na filosofia quilombola do intelectual Antônio Bispo dos Santos, conhecido como Nêgo Bispo. A partir da ideia de que a cultura de matriz africana é cíclica, marcada por movimento constante de começo, desenvolvimento e recomeço, Luango propõe uma leitura das imagens que valorize os saberes tradicionais em seu contexto original.
Encruzilhada
Em sua declaração sobre o processo curatorial, Luango ressalta a importância da exposição como um lugar de encruzilhada de saberes. Ao acessar os registros fotográficos de Luiz Alves, o curador buscou refletir a memória coletiva do povo de axé. Segundo ele, a exposição é construída como uma experiência imersiva, centrada na circularidade das culturas de terreiro, onde a arte tem função de preservar e ativar memórias.
Além do conteúdo visual, a mostra também investe em recursos de acessibilidade. As obras contarão com audiodescrição, acessada por meio de QR codes, além de painéis de LED com fones de ouvido disponíveis no espaço expositivo. O objetivo é ampliar o alcance da exposição para públicos diversos, com atenção especial a pessoas com deficiência visual.
A exposição poderá ser visitada gratuitamente no Museu da República, tanto em visitas guiadas quanto em visitas abertas ao público. A programação detalhada e os horários de funcionamento serão divulgados no canal oficial do Festival Mês da Fotografia.