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Quem não Adora Black?

Por Reynaldo Rodrigues

Vivendo a cerca de 32 km de Brasília, na Cidade Ocidental (GO), o artista Eduardo Fernandes de Araújo, de 26 anos, vai representar a Capital Federal no reality show de sucesso mundial Drag Race. Embora sua rotina se concentre no Entorno, é no Distrito Federal que o criador de looks e maquiagens deslumbrantes dá vida à drag queen Adora Black.

Conhecida há algum tempo na cena drag do DF, Adora foi eleita, em 2024, como Drag Revelação pelo Prêmio Jorge Lafond de Arte e Cultura. No mesmo ano, foi destaque de janeiro no Calendrag, projeto do coletivo Distrito Drag que seleciona artistas transformistas para estampar um calendário, cuja renda é revertida em ações culturais promovidas pela entidade.

Um salto alto

No último mês, foram reveladas as participantes da segunda temporada do Drag Race Brasil, competição que reúne artistas de diferentes estados em busca da coroa e de um prêmio estimado em R$ 150 mil. Entre nomes já conhecidos do público, como Desireé Back e Ruby Rox, Adora Black se destacou e foi uma das mais comentadas na rede social X.

Com gravações realizadas em Lisboa, Portugal, o programa volta a ser apresentado por Grag Queen, cantora e apresentadora que compartilhou nas redes sociais algumas das novidades da nova werkroom — espaço onde as competidoras se preparam. A nova temporada estreou ontem, 10 de julho, e terá episódios semanais na plataforma WOW Presents Plus.

Em entrevista ao Correio da Manhã, Adora conta que é ela mesma quem cria todos os seus looks, cuidando de cada ponto de costura, aplicação de pedrarias e penas, encantando quem vê seu trabalho de perto.

"O meu fascínio por moda, design, looks vem de antes, e quando comecei a fazer drag sabia que a melhor forma de tirar as ideias da minha mente seria se eu mesma as executasse. Foi quando comprei minha máquina e comecei a costurar, mesmo sem nunca ter pego em uma antes. A moda em si já é muito intuitiva, e tudo se resume no bom gosto e personalidade que você dá para as peças", destacou.

Embora a cultura drag tenha ganhado mais espaço na noite brasiliense, Adora acredita que ainda há um longo caminho a percorrer. Reconhecida também em São Paulo, ela ressalta a importância do empoderamento e da representatividade como uma queen negra.

"É muito importante, porque mesmo hoje em dia o racismo continua enraizado na nossa cultura. O peso sempre é diferente para queens negras, e muitas acabam tentando se moldar. Então afirmar que temos orgulho de quem somos mostra que, apesar de todo o 'corre' e das oportunidades desiguais, ser preto é o que a gente tem de mais valioso — e, no fim, a gente sempre acaba inspirando outras pessoas pretas a não desistirem também", disse.

Durante a pandemia de Covid-19, muitos espaços de apresentação para artistas fecharam as portas, o que afetou diretamente o trabalho de diversas drags — Adora incluída. Para ela, o apoio do público, tanto presencialmente quanto nas redes sociais, foi essencial para seguir em frente.

"Acredito que ainda temos poucos espaços hoje em dia, mas o que falta é uma melhor valorização do esforço que é para uma drag estar no palco servindo um show. Também precisamos do apoio do público — as pessoas precisam consumir e apoiar a arte. Quanto mais se consome a arte drag, mais ela se espalha. Projetos voltados para essa arte também ajudam bastante, e é muito do que o Distrito Drag faz, por exemplo, sempre criando ações para espalhar cultura."

Reconhecimento da carreira

Se montando há apenas dois anos, Adora Black foi apontada em 2024 como uma das promessas da arte drag pelo Prêmio Jorge Lafond — iniciativa que homenageia anualmente pessoas e organizações que se destacam na luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA .

"Conquistar esses prêmios com tão pouco tempo de drag me fez começar a acreditar mais no meu potencial e perceber que as ideias loucas que passeiam na minha cabeça fazem sentido quando bem aplicadas — o que, em um cenário de competição, é muito bom", pontua.

Ao ser questionada sobre o impacto de participar de um reality de prestígio como o Drag Race Brasil, Adora reforça que o processo de conquista de respeito, visibilidade e oportunidades é coletivo.

"Eu vejo Drag Race exatamente como uma vitrine para a arte drag, com alcance nacional e até mundial. Então apoiar a temporada é manter a porta aberta para que outras possam chegar lá também. E quanto mais de nós vencerem, ganharem prestígio, forem respeitadas, alcançarem lugares novos, mais se fortalece a cena artística LGBTQIAPN como um todo", finalizou.

Para lembrar...

Na próxima quarta-feira (16) é celebrado o Dia Internacional das Drag Queens, data que valoriza essa arte cênica, associada às lutas da comunidade e que desafia os padrões estabelecidos pela sociedade, promovendo a liberdade, sem ligação direta com gênero ou sexualidade.