O espetáculo “Desassossego”, do Grupo Jurubebas de Teatro, será apresentado nos dias 11 e 12 de julho no Complexo Cultural Samambaia, no Distrito Federal. A peça, com entrada gratuita, faz parte do circuito “Desassossego In Loco” e tem como foco a crise da falta de oxigêncio enfrentada pelos hospitais de Manaus durante a pandemia de Covid-19, especialmente em janeiro de 2021, um dos momentos mais trágicos da pandemia no país. A montagem aborda diferentes experiências de dor e luto vividas no contexto da pandemia, utilizando recursos do teatro contemporâneo e referências do teatro clássico.
A peça é uma criação coletiva do grupo manauara e reúne em cena os atores Robert Moura, Leandro Paz e Nicka, sob direção de Felipe Maya Jatobá. A dramaturgia parte de relatos reais para construir uma narrativa centrada nas consequências da pandemia, explorando temas como a memória coletiva e a reconstrução social no cenário pós-Covid. O trabalho também se apoia em influências estéticas de nomes como Jerzy Grotowski e o coletivo Odin Teatret, combinando musicalidade, iluminação cênica e recursos performáticos.
Desde a estreia, em março de 2022, “Desassossego” foi apresentado em diversos festivais e mostras teatrais pelo país. A montagem já conquistou sete prêmios nacionais e recebeu uma indicação da Academia de Artes no Teatro do Brasil, com sede em Aracaju (SE), na categoria de Melhor Grupo de Teatro do Brasil. As apresentações no DF são viabilizadas com apoio da Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz 2023.
Indígenas
Ao término de cada apresentação no Complexo Cultural Samambaia, será realizada a roda de conversa “Representatividade Indígena na Cena Contemporânea”. O debate será conduzido pela historiadora e liderança indígena Kokama Maurille Gomes e contará com a participação do ator Leandro Paz, indígena e integrante do elenco da peça. O encontro pretende discutir a presença de artistas indígenas no teatro brasileiro e os modos de narrar suas histórias em cena.
Além das apresentações e debates, o Grupo Jurubebas irá promover atividades formativas no Distrito Federal. Nos dias 13 e 15 de julho, o coletivo oferecerá duas oficinas abertas ao público no Espaço Cultural H2O, localizado no Recanto das Emas. As oficinas integram a programação da residência artística do grupo, que será realizada com artistas locais da região Centro-Oeste, com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e práticas entre as duas regiões. As inscrições para as oficinas estão disponíveis no site grupojurubebas.com. A classificação indicativa do espetáculo é de 14 anos.
Vivências
O projeto “Desassossego In Loco” propõe uma abordagem centrada na preservação da memória dos impactos sociais e humanos causados pela pandemia de Covid-19 no Brasil. O espetáculo se constrói a partir de vivências coletadas durante o período de crise sanitária, com destaque para o colapso do sistema de saúde em Manaus, onde centenas de pessoas morreram por falta de oxigênio hospitalar.
Segundo o produtor e ator Robert Moura, a proposta do espetáculo é contribuir com a memória social do país e homenagear as vítimas da pandemia. “Essa obra é em homenagem aos mais de 700 mil mortos pela pandemia no país. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”, afirma.
Fundado em 2016, o Grupo Jurubebas de Teatro atua com foco em autoficção, teatro performativo e ações de formação artística em territórios periféricos de Manaus. O coletivo realiza oficinas, apresentações e atividades voltadas à comunidade LGBTQIAPN+ e populações indígenas, com o objetivo de descentralizar o acesso à produção cultural e ampliar a presença de vozes diversas no teatro brasileiro.
Com oito anos de trajetória, o grupo prioriza a circulação de seus trabalhos por diferentes regiões do Brasil, investindo em projetos que combinam espetáculo e formação. Em sua atuação, o Jurubebas busca articular arte, memória e política cultural em territórios que historicamente enfrentam menor acesso a equipamentos e recursos culturais.
A temporada do espetáculo “Desassossego” no Distrito Federal faz parte da proposta de expansão territorial do grupo, que vem realizando apresentações fora da região Norte com o objetivo de levar ao público de outras regiões o relato sobre os impactos da pandemia em comunidades historicamente marginalizadas.
