Por: Mayariane Castro

Memórias do Moa

Jornalismo, política, carnaval, Corinthians: temas do livro de Moa | Foto: Divulgação

Aos 72 anos, o jornalista Moacyr de Oliveira Filho é parte da história jornalística, política e cultural de Brasília. Com forte militância no combate à ditadura militar, Moa, como é conhecido, teve também atuação destacada em diversos veículos da imprensa brasileira. E fincou seu nome na história do carnaval brasiliense. É fundador do famoso bloco Pacotão e já presidiu a escola de samba Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro, a Aruc, a mais premiada de Brasília.

Com toda essa bagagem, Moa lançou na última quarta-feira (21), em Brasília, o livro “O Desabrochar dos Agapantos – Histórias, Reflexões, Vivências”, sua quinta publicação. A obra, publicada pelo selo Mais Histórias, da Mauad Editora, é uma reunião de memórias que abordam experiências pessoais e profissionais ao longo de mais de cinco décadas.

Com 72 anos, Moacyr decidiu registrar episódios de sua vida que envolvem o jornalismo, a política, o carnaval e a participação em movimentos culturais e sociais. Segundo ele, o objetivo é preservar memórias pessoais e também contribuir para a história recente do Brasil e de Brasília. No livro, o autor relata sua trajetória na imprensa, sua atuação em cargos públicos e episódios marcantes como a prisão e a tortura sofridas durante o regime militar.

A publicação reforça o papel da narrativa pessoal como elemento de construção da memória coletiva. Segundo o autor, a valorização de relatos como o seu é fundamental para preservar experiências que compõem o mosaico da história recente do país.

Entre páginas

O livro não segue a estrutura de um romance autobiográfico. De acordo com o autor, trata-se de um relato jornalístico que aborda passagens significativas de sua vida, mesclando fatos pessoais com aspectos da história política e cultural do país. Entre os temas abordados estão a luta contra o alcoolismo, um diagnóstico de sua filha, a atuação em movimentos carnavalescos, além de passagens profissionais em veículos de comunicação e órgãos públicos.

A publicação traz reflexões sobre o papel do jornalismo e da política no Brasil contemporâneo. No prefácio do livro, o jornalista e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), Hélio Doyle, destaca a dedicação de Moa à prática jornalística, lembrando que ele foi responsável por importantes reportagens e teve a carreira afetada pelas interferências políticas do período da ditadura militar.

Além da trajetória profissional, o livro também apresenta o envolvimento do autor com o carnaval. Moa foi presidente da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), considerada a mais antiga escola de samba de Brasília e detentora do maior número de títulos do carnaval da capital. Atualmente, é secretário-geral da Federação Nacional das Escolas de Samba (Fenasamba).

Detalhes da vida

Paulistano do bairro do Brás e morador de Brasília desde 1977, Moa iniciou sua carreira jornalística em São Paulo e acumulou experiências em diversos meios de comunicação e instituições. Atuou como assessor de comunicação da Câmara dos Deputados, da Assembleia Nacional Constituinte, do Senado Federal, da Secretaria de Comunicação da Presidência da República e da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), onde também ocupou cargos de direção. Foi ainda editor da Agência Senado e diretor-geral do Departamento de Turismo do Governo do Distrito Federal.

O autor é um dos integrantes da Comissão da Memória e Verdade do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, voltada para o resgate das histórias de jornalistas perseguidos durante a ditadura. Ele também anunciou a intenção de escrever um novo livro sobre sua passagem pelo DOI-Codi em São Paulo, onde foi preso político.

Eternizar

Em entrevista, Moa afirmou que a motivação para escrever o livro surgiu do desejo de registrar suas vivências para as próximas gerações. “Escrevi pensando nos meus filhos e netos. Aos 72 anos, achei que deveria deixar minhas memórias registradas — minhas lutas, sonhos, aventuras e delírios na política, no jornalismo e no carnaval”, declarou. Ele acrescenta que a publicação também é uma tentativa de valorizar a memória política e cultural brasileira em um momento em que essas temáticas, segundo ele, recebem pouca atenção.

Com quatro livros anteriores publicados, Moa reforça que o atual lançamento marca uma etapa diferente em sua trajetória literária. A obra reúne aspectos íntimos e coletivos, apresentando passagens da infância, da juventude, da militância política e da atuação cultural em Brasília. O autor afirma que se trata de uma contribuição pessoal à preservação da história da capital federal, do jornalismo brasileiro e das manifestações culturais populares.

O livro também destaca o envolvimento emocional do autor com o Corinthians, seu time de futebol, e com a Portela, escola de samba do Rio de Janeiro, além da escola paulista Vai-Vai e da própria Aruc. Esses elementos são abordados como parte do universo de referências que moldaram suas escolhas profissionais e pessoais. A publicação foi organizada com base em relatos escritos ao longo dos anos, revistos e atualizados para compor a narrativa atual. A estrutura do livro permite que o leitor acompanhe episódios independentes, interligados por temas como resistência política, identidade cultural e a prática do jornalismo em diferentes contextos históricos.