Por: Mayariane Castro

Fora do Eixo: São Sebastião

Formiga na Roça é uma das melhores quadrilhas do Distrito Federal | Foto: Secec

São Sebastião concentra iniciativas artísticas que abrangem música, dança, literatura, audiovisual, artes visuais e manifestações populares. A região reúne produtores culturais, fotógrafos, dançarinos, atores, cineastas, músicos, artistas plásticos, artesãos, poetas e escritores. A presença de Pontos de Cultura e a continuidade de projetos comunitários estruturam uma cena ativa, hoje reconhecida por diferentes segmentos culturais.

Entre as expressões mais consolidadas está a dança. As Quadrilhas Juninas da região participam de circuitos locais e nacionais e são reconhecidas em diversos lugares pelo seu trabalho, como a Quadrilha Formiga da Roça, que já viajou para outros estados para representar o DF em eventos e competições. Outra forma de cultura se dá pelo Projeto Garatuja, criado há mais de 16 anos, que oferece oficinas de balé e dança contemporânea para crianças e jovens da região. Manifestações religiosas, como a Via Sacra e o Reisado, também compõem o calendário cultural e reúnem grande público anualmente.

A produção musical reúne estilos variados. Eventos de forró e sertanejo dividem espaço com iniciativas de reggae, samba e rock, que são os estilos mais consumidos pela população. Projetos como Reggae na Praça, Samba da Vela e bandas como Niilismo, Miss Mestiça, Indigentes, Indecisos e Skate Favela ocupam diferentes circuitos, embora parte desses grupos enfrente dificuldades para acessar espaços adequados de ensaio e apresentações. Segundo organizações locais, a falta de infraestrutura limita a circulação de artistas de segmentos que não integram os principais roteiros culturais.

Domingo no Parque

Um dos eventos que atende bandas autorais e manifestações alternativas é o Domingo no Parque, realizado há 13 anos pelo Movimento Cultural Supernova, conhecido em São Sebastião. A iniciativa promove apresentações diversas e chama atenção para a necessidade de revitalização do Parque do Bosque, combinando ações culturais e ambientais.

A literatura tem sido fortalecida por projetos comunitários. A Biblioteca do Bosque, uma das poucas unidades públicas da região, organiza a Feira Literária da Biblioteca do Bosque há cinco anos. A ação estimulou outras iniciativas, como a FLIC, Feira Literária do Capão Comprido, voltada à área rural de São Sebastião, e a Feira do Vale, que reúne artistas e empreendedores locais. Esses projetos articulam fruição literária e economia criativa.

O hip-hop mantém presença contínua, com grupos como Atitude Feminina e Imagem de Rua. As batalhas de rima ocorrem semanalmente e renovam o movimento. Uma rádio comunitária auxilia na divulgação de produções artísticas locais. A cultura afro-brasileira é representada por coletivos como Congo Nya, responsável pelo Afroexplô, e por eventos como o Odu Festival de Arte Negra e o Festival da Cultura Afrobrasileira e Indígena.

A memória local é tratada pelo projeto Memórias Oleiras, um museu virtual dedicado ao registro da história da cidade e sua relação com a construção de Brasília. A região está próxima de receber o primeiro patrimônio histórico tombado, a Cruz do Morro da Cruz. O muralismo também compõe a paisagem urbana, com trabalhos do Instituto Metamorfose, Instituto Nivaldo Nunes, coletivo Defenestra Stencil e artistas independentes como David Aires.

A participação de mulheres ocorre por meio de iniciativas como Casa Luar e Sarau das Sebastianas. Projetos socioculturais para o público infantil são desenvolvidos pela Associação Ludocriarte, que realiza um festival artístico-cultural voltado à criação de músicas, videoclipes, curtas-metragens e livros por crianças e jovens.

Chica de Ouro

No audiovisual, a cidade sedia o Supercine, voltado ao cineclubismo, com atividades de formação para estudantes e professores, e o Festival Chica de Ouro, que há dez anos estimula a produção de curtas escolares. A 11ª edição levará ao Cine Brasília 15 dos 40 filmes produzidos por alunos do Centro Educacional São Francisco, com premiação após exibição. Os trabalhos foram realizados por estudantes do ensino médio e serão analisados por júri técnico e popular.

São Sebastião está entre as regiões que receberão novos CEUs da Cultura, anunciados pelo Ministério da Cultura dentro do Novo PAC, em outubro de 2025. Além de São Sebastião, Varjão e Paranoá terão unidades instaladas, com investimento superior a R$ 2,5 milhões por centro até setembro de 2027. Os CEUs integram atividades de arte, educação, esporte e lazer, com oferta de oficinas, cursos e eventos gratuitos.

Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF, os centros devem ampliar o acesso à formação artística e fortalecer a cidadania nas regiões atendidas. As ações integram a política do governo local voltada à democratização da cultura e à expansão de equipamentos públicos. A combinação entre iniciativas comunitárias, eventos periódicos e novos investimentos define o atual cenário cultural de São Sebastião, marcado pela coexistência de diferentes práticas artísticas e pela criação de espaços voltados à circulação de produções locais.