Em julho, o Correio da Manhã colheu diversos depoimentos de mães que se dizem desamparadas pela má prestação de serviço de homecare, modalidade de tratamento domiciliar de alta complexidade oferecida pela saúde pública do Distrito Federal. As reclamações apontaram falhas no atendimento realizado pela empresa SOS Vida, responsável pela migração de pacientes. Na época, o jornal apurou que as demandas também estavam sendo analisadas pelo Ministério Público do DF e pelo Tribunal de Contas.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde (SES) confirmou que a empresa, atualmente responsável pelo atendimento de 53 pacientes, comunicou oficialmente à pasta que não tem interesse em prorrogar o contrato. Segundo a SES, o motivo apresentado foi o encerramento das atividades dos proprietários da empresa em Brasília. O contrato termina em 10 de janeiro de 2026.
Em nota, a pasta informou que “os atendimentos vêm sendo realizados conforme as cláusulas contratuais e que a Secretaria mantém acompanhamento e fiscalização contínua dos serviços prestados”.
Questionada sobre as possibilidade de substituição por outras empresas e o registro de novas reclamações, a Secretaria não respondeu até o fechamento desta edição.
Depoimentos
A reportagem procurou familiares que recebem o serviço da empresa. Dionice Matos, mãe de Lucas Matos, de 30 anos, afirmou que o atendimento é preocupante. “Eles não mandam os materiais certos. Toda quinzena tenho que pedir sonda de respiração, por exemplo, porque eles não mandam a quantidade de material necessário. Também estão querendo mudar a dieta para uma dieta em pó, e ele não pode. Precisa ser líquida. Acaba agora dia 15, eu não tenho condições de comprar. O que eu vou fazer?”, relata.
Ela também critica o trabalho dos técnicos de enfermagem e contou que já ficou um dia inteiro sozinha cuidando do filho, sem auxílio profissional. “É bem complicado”, desabafa.
Gleiciane Ferreira, mãe de Mariah Eduarda, de 14 anos, classificou o atendimento como péssimo. “Deixa a desejar em tudo. Nós não temos intercorrências (protocolos de emergência) aqui no Distrito Federal. A minha filha há um mês precisou de uma intercorrência e precisei chamar o Samu, quando foi constatado que ela estava com pneumonia. Se não ficamos atentas, os pacientes vão a óbito”, declara.
Ela contou ainda que, durante um tratamento intravenoso, os profissionais tiveram dificuldades para colocar o acesso na filha. Além disso, afirmou estar comprando fraldas com o próprio dinheiro e com doações, já que o material, que deveria ser entregue não foi. Já para Ana Sousa, desde que o marido migrou para a SOS, começaram a viver um verdadeiro terror. “Este mês ele chegou a ficar dez dias sem a medicação”, afirma.