Durante a Operação Wrong Way, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) desarticulou um esquema de corrupção dentro do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF). A ação cumpriu 45 mandados de busca e apreensão, entre documentos e equipamentos, mobilizando cerca de 120 policiais civis em diversas regiões do DF e cidades do Entorno.
As investigações, conduzidas ao longo de um ano, apontam que servidores do órgão, de outros suspeitos, atuavam de forma irregular na emissão de Autorizações de Transferência de Propriedade de Veículo (ATPV-e) em troca de propinas. Os acusados cobravam cerca de R$ 150 por processo para facilitar a transferência de automóveis sem a conferência da documentação exigida.
De acordo com a PCDF, o esquema era sofisticado e o grupo contava com o apoio de pelo menos 15 empresas do setor automotivo, que funcionavam como despachantes informais. Os estabelecimentos prometiam entregar os carros “já transferidos” aos compradores, sem a necessidade de comparecimento ao Detran. Estima-se que centenas de autorizações tenham sido emitidas de forma ilegal nos últimos quatro anos, beneficiando pelo menos 36 empresários. Os servidores usavam suas credenciais no Sistema de Gestão de Trânsito para burlar etapas do processo e favorecer as empresas parceiras.
Em nota à reportagem, o Detran afirma que desde o início da atual gestão tem atuado de forma integrada com os órgãos competentes com o objetivo de identificar e desarticular fraudes que, por anos, comprometeram a credibilidade da instituição e prejudicaram o cidadão. O Departamento afirma que os servidores identificados serão afastados de suas funções e responderão a processo administrativo disciplinar.
Março
Segundo o órgão policial, a primeira fase da investigação foi deflagrada em março deste ano, ocasião em que foram encontradas dezenas de autorizações fora do ambiente institucional do Detran. À época do fato, o Correio da Manhã noticiou a operação e apurou que as denúncias começaram na Ouvidoria do DF, indicando que servidores cobravam R$ 50 para emitir transferências sem a documentação obrigatória. As investigações revelaram 14 transações suspeitas envolvendo servidores e uma agência de revenda de veículos. Os dois profissionais do Detran, evolvidos nessa primeira fase, foram afastados das unidades de Brazlândia e do Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA).
A investigação também identificou movimentações bancárias incompatíveis com os rendimentos dos servidores, em alguns casos, o montante movimentado superava dez vezes o salário mensal dos investigados. Também foi identificado transferências e tentativas de ocultação de valores.