Investigação da Polícia Federal aponta possível desvio de recursos de emendas parlamentares destinados à Associação Moriá, responsável pela realização de eventos de circuito de jogos digitais no Distrito Federal e no Espírito Santo. A suspeita surgiu após a Controladoria-Geral da União (CGU) identificar diferenças expressivas nos valores contratados entre os dois estados. Segundo a CGU, aproximadamente R$ 12,8 milhões dos R$ 15,2 milhões repassados para os Jogos Estudantis de Esportes Digitais foram pagos a empresas suspeitas de envolvimento em fraudes.
Diante das denúncias, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, atendeu ao pedido da Procuradoria-Geral da República e autorizou medidas cautelares, incluindo a quebra de sigilos, suspensão de pagamentos e repasses, além do sequestro de bens da empresa investigada, que, segundo a Polícia Federal, podem totalizar R$ 25 milhões.
Consta nos autos, aos quais a reportagem teve acesso, que os acordos firmados no Distrito Federal apresentaram valores 315% superiores aos registrados em contratos similares no Espírito Santo, com destaque para o superfaturamento na locação de computadores para os jogos. As investigações indicam que o esquema de desvio de recursos públicos se sustentava em três pilares: o direcionamento fraudulento de subcontratações, acordos prévios entre empresas para simular concorrência e o uso de empresas de fachada.
A investigação também mira nos vínculos políticos entre o senador Izalci Lucas (PL-DF) com Adriano Marrocos, ex-filiado ao PSDB/DF e apontado como lobista da contratação. Segundo a CGU, Marrocos participou de ao menos dez eventos públicos promovidos pelo parlamentar nos últimos anos, sugerindo uma articulação política relevante por trás dos repasses investigados. A emenda parlamentar originalmente estimada em R$ 732 mil saltou para mais de R$ 9,4 milhões, dos quais R$ 7,5 milhões foram destinados à Associação Moriá.
Outro lado
Ao Correio da Manhã, o senador afirma nunca ter conversado com Marrocos sobre emendas parlamentares e manifestou surpresa com a participação do contador nas investigações. Ainda, Izalci informa que cancelou o repasse da emenda parlamentar destinada à Associação Moriá.
Por sua vez, a associação declara estar surpresa com a busca e apreensão autorizada pelo ministro Flávio Dino e se coloca à disposição das autoridades para prestar todas as informações necessárias que comprovem a lisura de seus procedimentos. A empresa ressalta que ainda não se manifesta oficialmente por desconhecer os fundamentos da decisão judicial proferida pelo Supremo Tribunal Federal.