O Mamulengo, que faz parte de uma tradição brasileira de teatro de bonecos, tornou-se, na última terça-feira (10), patrimônio cultural imaterial do DF. O ato foi concretizado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural, da Secretaria de Cultura do DF, durante a 28ª reunião ordinária do colegiado. Segundo a pasta, levou-se em consideração que Brasília é a localidade com maior número de brincantes do Brasil fora do Nordeste.
Dados levantados com a Associação Candanga de Teatro de Bonecos do DF, revelam que na região há cerca de 15 grupos. Walter Cedro, um dos fundadores da Associação, conta à reportagem que o Mamulengo chegou no Brasil com os portugueses, e no DF com os construtores da cidade.
“Os operários brincavam com bonecos nos momentos de descanso. Desde então, o Mamulengo cresceu e se espalhou por todo o DF. Embora tenha raízes nordestinas, aqui essa manifestação ganhou novos sotaques e temas, que refletem a diversidade cultural da capital. Esses bonecos dialogam com questões urbanas, ambientais e sociais do Centro-Oeste, sem perder o espírito de brincadeira, mas com senso crítico, pois é característica da nossa tradição”, afirma.
Thiago Francisco é “brincante” do gupo Fuzuê, criado há 18 anos no DF. O termo é utilizado para designar as pessoas que conduzem os brinquedos. Em entrevista ao Correio da Manhã, ele ressalta que o Mamulengo chega em lugares que o circuito cultural não alcança.
“O Mamulengo tem essa abrangência, a gente acaba chegando em onde o circuito cultural não chega. Nós apresentamos em praças, feiras, espaços alternativos, nas escolas e em espaços comunitários. Essa também é uma característica forte da brincadeira, e eu acho que isso nos distingue de outras formas de expressão cultural”.
Gerações
Thiago também explica que os bonecos dos espetáculos são feitos a partir da madeira Mulungu, e passados de geração em geração.
“Os bonecos geralmente são confeccionados de uma madeira chamada Mulungu. Ela é bem leve, fácil de talhar e macia para esculpir. Nós também construímos os brinquedos, mas na brincadeira do Fuzuê, a gente tem muitos bonecos herdados de outros mestres brincantes. Alguns são até mais velhos que eu, que tenho 40 anos”, relata.