Por: Thamiris de Azevedo

DF bebe a água poluída do rio Melchior?

Belmonte levantou a hipótese de consumo da água do Melchior | Foto: Agência CLDF

A população do Distrito Federal pode estar consumindo a água poluída do rio Melchior. A possibilidade foi levantada pela deputada Paula Belmonte (Cidadania), presidente da CPI, que discutiu os impactos ambientais da situação do rio, na sessão desta quinta-feira (29). A preocupação decorre do fato de as águas do Melchior, enquadrado na classe 4 de poluição, o pior nível possível, correrem para o rio Descoberto, que vai para o reservatório de Corumbá e, consequentemente, pode terminar nas torneiras das casas de Brasília e das demais regiões do DF.

Além disso, a parlamentar manifestou preocupação com a suspeita de que a impermeabilidade dos poluentes esteja alcançando o lençol freático.

Na 6ª reunião CPI, os parlamentares e presentes ouviram análises de especialistas sobre a poluição do rio, que ainda pode ser agravada, como vem mostrando o Correio da Manhã, pela possibilidade de construção de uma termelétrica no local (leia mais na página 9).

Em reportagem anterior, o Correio da Manhã já havia entrevistado um dos especialistas, o professor e pesquisador José Francisco Gonçalves. Na audiência, assim como ele havia dito ao jornal, ele reafirma que o Rio Melchior não está morto, mas é como um paciente de UTI que precisa ser cuidado. Ainda, o especialista se manifestou contra o sacrifício do rio.

“Estamos em um Estado em que temos o maior IDH do Brasil, é inadmissível que um dirigente diga que precisa de um rio de sacrifício”, afirmou.

Mercúrio

Se a população do DF consome a água do Melchior, o risco é muito alto, como apontou o também especialista João Vicente Bernadi. Ela apresentou dados que apontam para uma grande quantidade mercúrio nas águas, o que afeta especialmente as comunidades que vivem às margens do rio.

Gonçalves, ainda, mostrou na reunião um ofício da Companhia Ambiental de Saneamento do DF (Caesb) feito diretamente para a reitoria da instituição onde ele dá aula, a Universidade de Brasília (UnB), desqualificando o professor e formalizando uma reclamação contra ele, depois de uma entrevista que ele cedeu falando sobre a poluição do Lago Paranoá. O professor reitera que foi a segunda vez que se sentiu coagido por algum órgão por falar da situação hídrica em Brasília.

“O modus operandi da administração do Distrito Federal é uma ameaça velada contra todos aqueles que têm uma voz destoantes do que o governo gostaria de ouvir, disse.

Em resposta, Belmonte disse que vai investigar o caso e afirmou já ter recebido outras denúncias de coação contra quem está na linha de frente na defesa das águas.

Na próxima quinta-feira (5), os integrantes da CPI farão uma visita técnica à Estação de Tratamento de Esgoto da Caesb, que também despeja efluentes nas águas do Melchior.