Por: Jorge Vasconcellos

'No dia em que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar', diz Tarcísio sobre metanol

O governador de SP, Tarcísio de Freitas | Foto: Reprodução

Governador de São Paulo, estado mais afetado pela crise das bebidas adulteradas com metanol (14 casos confirmados e três mortes), Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse não estar preocupado, pois não ingere álcool.

“No dia em que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar... Ainda bem que ainda não chegaram nesse ponto. Coca-Cola, até aqui, não. E a minha é normal [com açúcar na fórmula]”, disse o governador na segunda-feira (6), durante coletiva de imprensa, após se reunir com representantes do setor de bebidas.

O resultado da brincadeira de mau gosto foi um silêncio constrangedor, tanto entre os que dividiam a mesa com o governador quanto entre os jornalistas.

Em outro ponto da fala, voltou fazer questão de dizer que não consome bebidas alcóolicas, em um discurso moralista que acabou responsabilizando as vítimas do metanol pelas próprias mortes, perdas de visão e outras graves sequelas desse tipo de intoxicação.

“Nós ouvimos uma vontade enorme de colaborar. Quem estava aqui eram os fabricantes, os maiores fabricantes, os maiores players do Brasil estavam na mesa, que fabricam as maiores bebidas que são objetos de falsificação, Jack Daniels, Johnny Walker, enfim, todas essas bebidas que são objetos de falsificação. [Mas] não vou me aventurar nessa área, que não é minha praia”, disse.

As declarações do governador tiveram uma péssima repercussão nas redes sociais e serviram de munição para seus adversários políticos. Elas foram comparadas a “é só uma gripezinha” ou “e daí, não sou coveiro”, ditas pelo seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando debochava das vítimas da pandemia de covid-19, que teve a marca trágica de mais de 700 mil mortos no país.

"Um tirava sarro da pandemia, o outro agora vem fazer brincadeira com as intoxicações por Metanol. Tarcísio é a cópia fiel de Bolsonaro", disse a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, ao compartilhar o vídeo com a fala de Tarcísio no Instagram.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) disse que a postura de Tarcísio não é a adequada para o cargo que ele ocupa. “Pessoas mortas, pessoas com sequelas permanentes. Toda a população preocupada com as bebidas adulteradas com metanol. O que Tarcísio diz: ‘O dia que começarem a falsificar Coca-Cola eu vou me preocupar’. É inaceitável que um governador se porte dessa maneira!”, afirmou o parlamentar, na plataforma X.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) também lamentou as declarações de Tarcísio. “Inacreditável! O governador Tarcísio cometeu essa frase na entrevista sobre a intoxicação com metanol”, escreveu, na mesma rede social. “Pessoas MORRERAM por ingerirem bebidas falsificadas e o governador diz isso. É o novo ‘não sou coveiro’”.

Na semana passada, ainda no início das investigações sobre essa crise sanitária, o governador de São Paulo já havia feito declarações que se tornaram alvo de críticas. Sem qualquer elemento, ele praticamente inocentou a facção PCC de qualquer envolvimento na adulteração de bebidas, ao mesmo tempo em que o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmava, em Brasília, que nenhuma hipótese estava descartada.

Em todo o país, são 16 casos confirmados de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol — 14 em São Paulo e 2 no Paraná. As informações são enviadas pelos estados e consolidadas pelo Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Nacional (CIEVS) do Ministério da Saúde.

O estado de São Paulo responde pela maioria das notificações, com 14 casos confirmados e 178 em investigação.

O número de vítimas fatais das bebidas com metanol em São Paulo subiu para três. A Prefeitura de São Bernardo do Campo informou que a designer de cílios e sobrancelhas Bruna Souza, de 30 anos, faleceu na segunda-feira (6). Ela estava internada após ingerir um combo de bebida alcoólica adulterada com o produto.