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Os sinais do perigo estão em casa

Uma tragédia abalou o município de Estação, no Rio Grande do Sul, na terça. Uma criança de 9 anos morreu após ser atacada com uma faca por um adolescente de 16 anos dentro da Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Nascimento Giacomazzi. O caso chocou o país e reacendeu o debate sobre a saúde mental de crianças e adolescentes, o papel da escola, da família e da sociedade na prevenção da violência infantojuvenil.

O episódio aconteceu menos de uma semana após o vice-presidente Geraldo Alckmin sancionar a lei que torna mais severas as punições para crimes cometidos em ambientes escolares. Mas, como alertam especialistas, legislações mais duras não são suficientes para conter o problema. A raiz da violência, muitas vezes, está nos traumas silenciosos e nos sinais negligenciados.

Para a pediatra e orientadora parental especializada em trauma na infância, Dra. Priscila Xavier, é urgente que pais, professores e cuidadores estejam atentos às manifestações comportamentais das crianças e dos jovens. "Os sinais de alerta que podem indicar um sofrimento psíquico profundo incluem mudança de comportamento repentina, tendendo ao isolamento social, assim como falas e comportamentos mais agressivos, que podem ser sugestivos de um sistema nervoso em sofrimento", afirma. Segundo a especialista, "o comportamento de uma criança é sempre uma forma de comunicação; os pais precisam estar atentos, pois o isolamento social e o silêncio na adolescência muitas vezes são o primeiro grito de socorro que ela está dando".

A especialista destaca ainda a importância de observar não apenas as vítimas, mas também os autores e os "espectadores silenciosos" de episódios de violência, como o bullying. "O bullying afeta a saúde mental, comprometendo diretamente a autoestima dos envolvidos. Como vítima, pode levar a consequências como ansiedade, depressão e isolamento social. O agressor, por sua vez, tem comportamentos disfuncionais intensificados quando situações de bullying não são conduzidas de forma adequada, podendo agravar a agressividade e a impulsividade", explica. "Precisamos estar atentos não só às vítimas diretas, mas também aos telespectadores, que em muitos casos podem desenvolver sentimentos de culpa e ansiedade frente às situações que presenciam."

Outro ponto de preocupação é o impacto das redes sociais sobre crianças e adolescentes. A facilidade de acesso a conteúdos violentos, desafios perigosos e grupos de incentivo à autolesão expõe jovens ainda em desenvolvimento a riscos graves. "Devido ao cérebro ainda imaturo, infelizmente eles são alvos fáceis de desafios perigosos no ambiente virtual. É nesse cenário que entra a responsabilidade dos cuidadores, através de práticas educativas", conclui.