Por: Jorge Vasconcellos

Argentina classifica cartel do tráfico como terrorista e abre caminho para ações dos EUA

Caça decola de um dos navios que se deslocam rumo à costa da Venezuela | Foto: Divulgação/Departamento de Estado

No momento em que três navios de guerra dos Estados Unidos, com mais de 4 mil fuzileiros navais a bordo, se deslocam em direção à costa da Venezuela, a pretexto de combater os cartéis das drogas da América Latina, o governo da Argentina determinou, na terça-feira (26), a incorporação da organização criminosa transnacional conhecida como ‘Cartel dos Sóis’ no Registro Público de Pessoas e Entidades Vinculadas a Atos de Terrorismo e seu Financiamento (RePET).

O governo de Javier Milei, aliado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirma, em um comunicado, que a decisão foi tomada no “âmbito dos compromissos internacionais assumidos pela República Argentina na luta contra o terrorismo e seu financiamento, e em conformidade com as normas nacionais em vigor”.

Segundo o governo argentino, a decisão, adotada em coordenação entre o Ministério das Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto, o Ministério da Segurança Nacional e o Ministério da Justiça, “baseia-se em relatórios oficiais que comprovam atividades ilícitas de natureza transnacional, incluindo tráfico de drogas, contrabando e exploração ilegal de recursos naturais, bem como ligações com outras estruturas criminosas na região”.

A nota do governo argentino foi compartilhada pelo perfil do Departamento de Estado dos Estados Unidos. “O governo argentino declara o ‘Cartel dos Sóis’ como organização terrorista’, diz a publicação argentina.

Portas abertas para os EUA

A classificação do ‘Cartel dos Sóis’ como uma organização terrorista abre caminho para sanções financeiras e outras ações do governo dos EUA.

No começo deste mês, o presidente Trump assinou uma diretiva ordenando que o Pentágono use força militar contra cartéis de drogas latino-americanos considerados como grupos terroristas pelo governo dos EUA. O ato fornece base oficial para possíveis operações militares diretas contra cartéis no mar e em solo estrangeiro.

O governo argentino afirma, no comunicado, que a medida adotada contra o grupo criminoso fortalece os mecanismos preventivos e punitivos contra o financiamento de operações ligadas ao terrorismo e ao crime organizado. Além disso, “reforça a cooperação internacional no campo da segurança e da justiça, em estreita coordenação com parceiros regionais e multilaterais”.

Paraguai

Com a medida, a Argentina se junta ao Paraguai na adesão às políticas de segurança do governo Trump.

Em meados deste mês, o governo paraguaio firmou uma parceria com Washington para a instalação de um centro antiterrorista, com agentes treinados pelo FBI (Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos) para compilar informações de inteligência contra o Hezbollah na Tríplice Fronteira com Argentina e Brasil.

Em maio, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil anunciou uma recompensa de até US$ 10 milhões por informações sobre atuação do Hezbollah na Tríplice Fronteira.

O fato de especulações indicarem a presença de integrantes do grupo terrorista na cidade de Foz do Iguaçu (PR) causou preocupação no governo brasileiro em relação à possibilidade de uma ação militar dos Estados Unidos em território nacional.

Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro, apontado pelo governo dos EUA como um ‘narcoterrorista’, tem criticado a aproximação de três navios de guerra americanos da costa do país, no mar do Caribe. "Ninguém toca nesta terra", afirmou Maduro, que convocou 4,5 milhões de milicianos para o reforço da segurança.