Por Guilherme Botacini e Igor Gielow (Folhapress)
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou na terça (18) que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, é "incrível em termos de diretos humanos". Trata-se da primeira primeira visita do líder de fato do reino árabe a Washington desde 2018, quando o jornalista saudita Jamal Khashoggi foi assassinado dentro do consulado de seu país em Istambul.
"Temos um homem extremamente respeitado no Salão Oval hoje, e um amigo meu de longa data, um grande amigo meu", disse o republicano. "Estou muito orgulhoso do trabalho, o que ele fez é incrível em termos de direitos humanos e tudo mais."
Além de isentá-lo publicamente pela morte de um jornalista e outras violações de direitos humanos, Trump entregou ao príncipe o instrumento que a Arábia Saudita tanto desejava para buscar uma equiparação com Israel, a mais temida potência militar do Oriente Médio.
Os caças F-35A prometidos ao reino pelos EUA só eram operados na região pelo Estado judeu, e no papel haverá um maior equilíbrio entre as forças aéreas de suas duas maiores máquinas mlitares.
É preciso enfatizar o "no papel". Israel tem uma capacidade de combate provada por uma existência toda forjada em guerras, que chegou a um patamar novo com os conflitos decorrentes do ataque do Hamas no 7 de outubro de 2023.
Desde então, sua Aeronáutica provou-se letal com adversários menos capazes de se defender, como os terroristas da Faixa de Gaza, mas também contra o Irã, que viu seus recursos antiaéreos dizimados pelos israelense em junho passado.
Já os sauditas, de longe donos do maior gasto militar regional, penaram durante sua intervenção direta na guerra civil do Iêmen, que durou de 2015 a 2022. Como nota análise anual do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, foram expostas fraquezas no poder aéreo e no bombardeio de precisão de Riad.
Ainda assim, os F-35 são uma aquisição disputada na região. Em 2019, Trump aprovou a venda de 50 F-35A por US$ 10,4 bilhões para os Emirados Árabes Unidos, que haviam concordado em ser os principais artífices dos Acordos de Abrãao - a normalização das relações com Israel de Estados árabes, visando isolar o Irã xiita.
Em 2021, contudo, o novo governo de Joe Biden congelou a venda, alegando que os emiratis estavam muito próximos da China, que também buscou elevar a relação com Riad quando patrocinou a retomada dos laços diplomáticos entre sauditas e iranianos no ano passado.
O caso dos Emirados é um conto cautelar, claro, mas o momento político é outro. Trump parece decidido a retomar o projeto Abraão, agora que algum tipo de encaminhamento para a faixa de Gaza está em curso.